Bem pe�o desculpas pela demora em voltar a escrever, mas tive alguns contratempos e por isso n�o pude continuar a enviar os relatos. Continuando.
Depois de ouvir o relato daquela t�o s�ria professora, pedi para passar um tempo sem ouvir confiss�es, e fui prontamente atendido sem que me questionassem o motivo.
Aquilo tinha me perturbado um pouco e precisava de um tempo para me acostumar e n�o mais me sentir chocado ou que meus sonhos fossem atormentados por aquilo que ouvia.
Depois de algum tempo, acredito que foram 5 dias, os sonhos se normalizaram e a cabe�a passou a n�o mais pensar na confiss�o da professora. Achava eu que estava pronto pra voltar a receber novas confiss�es.
Foi ent�o que meu superior, quando eu fui lhe informar que estava pronto para voltar ao confession�rio, me perguntou se eu gostava de novos desafios? Se eu estaria disposto a levar a palavra de Deus a lugares em que ela menos tinha for�a.
Eu surpreso mas ao mesmo tempo gostando da id�ia de poder fazer o bem a pessoas que, de certo, n�o o conheciam de fato, acabei dizendo que sim.
Foi quando ele me falou que o padre que era respons�vel pela capela de uma das penitenci�rias do nosso estado havia cometido um crime e que agora estava preso.
Fiquei perplexo, e perguntei o que o teria feito cometer algum crime. Meu superior me disse que era muito dif�cil um padre aguentar essa responsabilidade, que as confiss�es eram sempre pesadas, cheias de detalhes e geralmente versavam sobre crimes b�rbaros. O que de certo mexia com a cabe�a dos padres que ficavam por muito tempo em contato com esse tipo de assunto.
E que havia cometido um erro ao mandar o dito padre para cumprir esta tarefa, j� que sabiam que ele n�o tinha sido em sua vida pregressa uma pessoa, digamos pura. E que a id�ia de que ele, como j� conhecia o mundo daqueles com quem iria conviver, conseguiria falar a mesma l�ngua ou mesmo entender como aquelas pessoas pensavam e como agiam.
Afinal foi um erro, ele ao inv�s de influenciar aquelas cabe�as acabou tendo a sua influenciada e acabou por tentar usar sua imunidade como padre que era para entrar com drogas no pres�dio. Acabou sendo pego e agora responde e a processo. Deixando ainda uma grande m� impress�o nas autoridades sobre a integridade moral da igreja.
Pedi um tempo para que pudesse pensar e ele de pronto aceitou, j� que tinha me dado muito o que pensar e sabia o tamanho do desafio.
Passados 2 dias acabei aceitando a incumb�ncia e arrumei minhas malas para agora tomar conta de minha nova par�quia.
Foi meu erro! Eu que at� ent�o tinha me surpreendido com confiss�es de pessoas livres, que n�o tinham, em geral, cometido atos que os levassem a perder sua liberdade agora me depararia com uma penitenci�ria superlotada onde sabe l� Deus o que me esperaria.
Cheguei à penitenci�ria e logo mandei que me preparassem minha primeira missa. Queria conhecer de um modo amplo os rostos daqueles que eu iria pastorear a partir de ent�o.
Comecei a missa observando da melhor maneira poss�vel todos os presentes, caras marcadas pela vida, semblantes fechados, um povo taciturno e desconfiado.
Por alguns instantes duvidei de mim mesmo, achava que seria quase imposs�vel romper a muralha que aquelas pessoas ao longo da vida ergueram em sua volta.
Mas confiava em Deus e tinha certeza de que ele jamais me abandonaria ainda mais se eu estivesse realizando um bom trabalho.
Nessa missa que realizei passei um belo serm�o do que era a fun��o de um padre, e do sigilo que envolvia a confiss�o. E senti que muitos deles melhoraram os semblantes. Eu passei a acreditar que estava no caminho certo, e estava.
No dia seguinte dei in�cio às confiss�es. O medo do que eu iria ouvir me gelava a espinha, o suor frio percorria cada cent�metro do meu corpo, tremia! Na minha garganta um n� que parecia querer me sufocar, seca e arranhando. Temia n�o ter voz na hora em que precisasse dela.
Estava pronto 19 minutos antes do hor�rio marcado para come�ar a ouvir as confiss�es. Fui para minha cabine afim de n�o ser visto por ningu�m naquele estada de nervosismo.
O primeiro preso chegou, eu a esta altura j� estava no segundo ter�o, pedindo repetidamente a Deus que me desse as for�as necess�rias para passar pelo desafio.
Acredito que ele tenha me ouvido. Neste primeiro dia apenas pessoas acusadas de roubo e furto apareceram para confessar, em sua maioria, novatos que tinham acabado de chegar a penitenci�ria.
No segundo dia fui procurar os agentes carcer�rios para saber se os antigos n�o costumavam confessar, e o agente com quem conversei apenas disse: - Eles j� desistiram de Deus.
Fiquei em estado de choque, n�o passava pela minha cabe�a uma pessoa desistir de Deus dessa forma. E nessa hora eu soube que meu desafio seria bem maior.
N�o ouvi confiss�es no segundo dia, tirei o resto do dia para me dedicar a achar uma forma de me aproximar daqueles mais antigos, os que provavelmente n�o iriam mais sair dali, pelo menos com vida, pelo ac�mulo de crimes cometidos muitos deles dentro do pr�prio pres�dio.
No terceiro dia, fui ao encontro dos agentes carcer�rios e pedi para que me mostrassem os que realmente mandavam dentro daquele espa�o. Eles de longe identificaram pra mim esses indiv�duos. Eu perguntei se poderia conversar com eles. Mais uma vez ouvi algo que me chocou... – Seu padre o senhor n�o sabe onde est� se metendo! Seria melhor o senhor tentar outro tipo de sa�da.
Aquilo me deixou um pouco preocupado, mas mesmo assim insisti que deveria falar com aquelas pessoas. Pedi para que me trouxessem um por vez e que me deixassem a s�s com eles. Ap�s alguns minutos de relut�ncia por parte dos agentes consegui que me trouxessem um dos “chefes”.
Tentei ser o mais simples e direto poss�vel com ele. Perguntei a ele se ele tinha religi�o. Recebi uma balan�ada de cabe�a com resposta. Eu tinha que fazer com que ele falasse, n�o pretendia ficar apenas falando. E comecei a querer saber se ele queria um dia ser salvo? Ele me respondeu: - O seu padre pensa que algu�m aqui ainda pensa que pode ser salvo de alguma forma? Todos que est�o aqui desde que eu entrei, j� perderam as esperan�as, o mundo aqui dentro n�o � como o senhor pensa n�o. Todos aqui tem que fazer o que tem de ser feito para n�o acordar com a boca cheia de formiga. E o senhor vem querendo saber se eu quero ser salvo?
Fiquei meio sem ter o que falar, mas n�o desisti. E disse: - Se eu te disser que posso fazer com que voc� seja salvo? Te garantir que se voc� vai ter seu lugar garantido quando seu tempo nessa terra acabar?
Ele riu! E disse: - Se o senhor soubesse de tudo que j� fiz n�o estaria aqui me dizendo isso. Tenho certeza de que eles (os agentes) n�o lhe informaram antes de me trazerem aqui.
Eu rebati: - Pedi para que n�o me falassem nada! Queria ouvir de voc� o que voc� fez. De que me importa saber da opini�o dos outros? Tenho que confiar em voc� at� que me prove o contr�rio.
Notei que ele ficou parado, pensando. Eu de logo disse a ele que voltasse pra sua cela e que depois conversar�amos. Ele sem demonstrar rea��o nenhuma levantou-se e saiu.
Fiquei feliz por ter notado que tinha conseguido tocar em alguma coisa nele, e sabia que mais cedo ou mais tarde ele acabaria me procurando.
Continuei meus trabalhos na penitenci�ria, ouvindo os mais novos, distribuindo penit�ncias absolvendo os pecados e plantando a paz.
Depois de duas semanas da nossa conversa, ele me procurou.....
Isso fica para uma pr�xima oportunidade.
Pe�o desculpas por n�o terminar de pronto a hist�ria, mas ficaria longa demais. E este nosso primeiro “chefe”, tem muitas hist�rias que devemos come�ar a contar aqui. E, depois que este veio, seus seguidores todos come�aram a comparecer às missas e confiss�es.
Ou seja, teremos muitas hist�rias para contar daqui pra frente.
Um grande abra�o a todos, obrigado pelos e-mails e para quem quiser entrar em contato:
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At� a pr�xima!