MANIFESTO PARA UM MUNDO MELHOR
A gente s� sabe o que � isso quando chega nossa vez.
Demorou comigo, mas aconteceu por volta dos 40 anos.
� assim, quando se menos se espera, se descobre um mundo novo à nossa volta, a cabe�a vira um turbilh�o, e como fomos criados para agir de forma sempre retrograda, na nossa vez tentamos agir como se nada tivesse acontecido, mas n�o se consegue isso por muito tempo.
Um belo dia amanhecemos homem, hetero, no outro j� n�o sabemos direito o que somos, tentamos em v�o sufocar desejos, e no terceiro dia sem mais o que fazer assumimos, e somos felizes.
Na primeira experi�ncia com outro homem, achamos que � apenas um acaso do destino, mas a� come�amos a sentir outras emo��es, a n�o gostar mais do cheiro de f�mea como companheira, � uma tortura sair com elas, come�amos enfim aceitar nossa nova op��o, e posso falar com certeza, que tentamos muito sufocar esses sentimentos, por�m perdida essa fase, nada mais podemos fazer, sen�o assumir realmente nossos desejos, paix�es e vontades, e tomar pancada da vida, pois o preconceito à enfrentar ser� monstruoso.
Enfim, agora estamos cientes de nossa nova vida, de nossos novos cuidados, de nossas novas obriga��es para com o parceiro. Se antes era o ativo dominante da situa��o, agora vemos a vida pelo outro lado, viramos cento e oitenta graus, e agora somos a parte passiva e submissa da rela��o, e ainda assim estamos satisfeitas.
Os cuidados com a pele, com os cabelos, estar sempre pronta, cheirosa, arrumada, agora faz parte de nossas obriga��es.
E ainda assim estamos felizes!
Aprendemos a namorar de novo, a olhar os homens como nunca antes olhamos, e as mulheres agora tamb�m mudamos nosso foco, queremos apenas aprender com elas a se vestir, a se arrumar, a andar, enfim a sermos mais femininas. Aquele olhar de desejo antigo � substitu�do pelo olhar de um aluno.
Aprendemos a nos maquiar, a nos comportar como f�meas e a fazer nosso companheiro feliz; aprendemos a usar partes do nosso corpo que nunca usamos antes, e ainda mais que a usamos para nos dar prazer e principalmente para dar prazer aos outros, e ainda assim estamos felizes.
Os sentimentos de servid�o, submiss�o, resigna��o, passivismo, nos acompanham vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.
E ent�o aparece algu�m que quer ficar conosco, e come�a a fazer pedidos de maiores mudan�as comportamentais e f�sicas.
Nossas roupas que at� ent�o eram usadas somente entre quatro paredes, agora seu uso � exigido o dia todo, o que nos come�a a transformar verdadeiramente em mulheres.
As depila��es s�o outro pedido, assim como os cabelos, e vamos aceitando, sempre para agradar nosso namorado. Deixamos de sermos n�s mesmas, e passivamente aceitamos tudo, demonstrando assim que realmente estamos mesmos sem querer, pensando e agindo como mulheres.
Da� vem mais aprendizado, pois sair na rua assumida, al�m do preconceito enfrentado, � dif�cil. Se equilibrar em saltos alt�ssimos, acostumar com aquela calcinha sempre enfiada nas n�degas, o uso constante de espartilho para estar sempre com a cintura linda, o estranho uso de vestidos e saias, manicure pelo menos uma vez por semana...
E chegamos em casa, e temos de receber um homem dentro de n�s, coisa antes nunca aceita ou concebida em nosso mais secretos pensamentos.
Tudo porque um dia, um estranho te pegou de jeito, voc� n�o resistiu o suficiente, e agora tem que aprender a viver de novo.
Mas tenho que dizer: como � bom ser feminina. Sentir o toque das meias longas na pele, o aperto do espartilho, sair de sainha e salto alto, sentindo o vento bater nas pernas e entrar por baixo da saia, sentir as pernas rijas por causa do salto, o bumbum empinado, um bra�o de macho na nossa cintura, � muito bom. A pele macia pelo uso constante de hidratantes, sem pelos, lisinha, � muito bom.
Nesse ponto achamos que estamos prontas, quando nosso namorado pede ou manda come�armos um tratamento hormonal. E como sempre, resignadas, aceitamos. A� a vida vira mesmo de cabe�a para baixo. As altera��es de humor, as n�useas, a perda da libido, as altera��es f�sicas, enfim, quando estabiliza esta metamorfose, sentimos que parece nunca termos sido outra coisa sen�o mulheres. Nosso corpo parece algo muito ut�pico lembrando de como �ramos brutamontes.
As curvas est�o bem acentuadas agora, ere��o n�o temos mais, funcionamos igual mulher, s� temos prazer se formos penetradas.
Isso tudo � feito, aceito por n�s, e ainda assim estamos felizes.
Me tornei mesmo mulher, meu guarda roupas � feminino. S� tenho sand�lias e botas de salto muito alto, por exig�ncia de meu namorado, s� tenho roupas muito justas, tamb�m por exig�ncia dele. E manda, eu obede�o.
Ele adora piercing, mas em mim, n�o nele. Minhas orelhas est�o com montes de furo, assim como meus seios, meu umbigo, minha l�ngua, minha sombrancelha. Todo m�s ele quer fazer um furo novo em mim, parece � por prazer, para judiar e mostrar quem manda.
O �ltimo foi na uretra, j� que n�o uso mesmo para nada meu p�nis, segundo ele.
E j� come�ou a conversa do silicone, que no final vou mesmo aceitar, disso eu j� sei, e ficar mais arredondada ainda para ele.
E somos felizes....
Como � bom servirmos, ao inv�s de servir, como � bom deitar com quem amamos e n�o termos mais aquele compromisso de “ funcionar”, pois agora somos f�meas, passivas, subservientes, estamos l� n�o para penetrar algu�m, mas para sermos penetradas, e sempre prontas para isso.
Sempre esbravejei com a demora da mulheres em se aprontar, e hoje adoro cada minuto que passo me arrumando antes de sair de casa. E ele tamb�m acha ruim, � coisa de homem!
Como � bom a prepara��o; um longo banho quente, muito hidratante, os cuidados com o cabelo que levam horas. No quarto outro momento sublime: escolher as roupas, combinar as pe�as, come�ar as vestir as lingeries, a calcinha sempre fio dental enfiadinha, o amigo insepar�vel, o espartilho, sempre muito apertado, uma bermudinha jeans curtinha e bem colada no corpo, uma blusinha justa para mostrar a cintura modelada pelo “arreio” , como meu homem chama o espartilho, escolher auela sand�lia alt�ssima, de prefer�ncia plataforma, salto agulha, cal�a-la, e enfim se levantar da cama e dar uma olhada como ficou o visual, aquele check, e nos vemos linda. Ele j� vem e fala que eu quero aparecer, mas esquece que ele � o patrocinador disso tudo. E quando levantamos, naquele salt�o, e andamos, sentimos o que � ser feminina. Aquele rebolado que o salto obriga a gente a fazer, a bunda empinadinha tamb�m por causa do salto, e tamb�m porque for�amos um pouco, vamos falar a verdade. Nosso corpo justo nas roupas, e vemos que o resultado final ficou �timo.
� meninas, agora vamos esperar para entrar na faca, colocar minhas pr�teses nos seios, na bunda e nas pernas, agradar muito meu homem para n�o perde-lo, e como disse acima, j� que aceitamos tudo isso e somos felizes, vamos tomar pancada da sociedade, mas sempre muito, mas muito felizes.
Eu adoro ser mulher, e ser mulher do meu homem.
Este manifesto � para todos aqueles ou aquelas, que por motivo de cria��o ou pensamentos antigos, ou ainda religiosos, ainda n�o aceitaram a natureza que Deus lhes deu. N�o somos melhores, nem piores que ningu�m, nem diferentes somos. Somos apenas almas livres, que se dispuseram a ser felizes, aceitar a vida como ele foi nos dada pelo Criador, e ainda agradecer de ter sido escolhida por Ele para viver esta experi�ncia, pois por mais cheia de altos e baixos que temos em nossas exist�ncias, somos afortunadas por Deus de conhecer os dois lados da moeda, de termos tido coregem de assumir a sexualidade que quer�amos para n�s, e por evoluir nossa ra�a, pois penso que no futuro, todas pessoas poder�o pertencer livremente ao sexo que sua mente quiser, sem conven��es, sem preconceitos, simplesmente assumindo seu papel na sociedade, seja como homem ou mulher. Vamos acabar com estas termologias, do tipo, terceiro sexo, travesti, transexual, seremos apenas homens ou mulheres, dependendo da escolha que se fa�a.
Esse ser� o mundo feliz do futuro!