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A REVANCHE

Quem disse que toda hist�ria de vingan�a deve ter final previs�vel?



Uma cadeira de metal, de exame ginecol�gico. Minha respira��o dificultada, meus sentidos ainda zonzos. Estamos em uma sala bem grande, t�o cheia de coisas. Iluminada por algumas velas aqui e ali, e pelo ocasional brilho de um rel�mpago na tormenta l� fora. Minhas m�os presas atr�s da cadeira em apertados grilh�es de ferro fixados ao m�vel. Da mesma forma, correntes encadeadas mant�m minhas pernas presas nos cavaletes elevados da cadeira pelos tornozelos, e correias pl�sticas transparentes prendendo minhas coxas no desconfort�vel e frio m�vel praticamente me tolhem todos os movimentos. Para completar, mais dessas faixas prendem o meu tronco, saindo pr�ximo aos ombros e se cruzando pelos meus seios e barriga.

E claro, minha cabe�a envolvida por um capuz de couro negro, que a cobre toda, exceto pelos olhos e pelo nariz. Acho que ela quer ver bem meus olhos. J� est�o lacrimosos, mais de temor que de dor. Esse capuz t�m uma pe�a de borracha que invade minha boca e camufla ainda mais meu gemidos, gritos n�o crescidos, e uma argola que o prende ao encosto da cadeira, impedindo que mexa demais a minha cabe�a. E meus l�bios vaginais, presos por um tipo de alicate, seguro pelas m�os, vestidas de luvas cir�rgicas brancas, de algu�m.



- Estamos quase l�, querida. Ou melhor, vadia. As vezes at� eu esque�o, vendo voc� t�o bela. Ah, vai doer.



Dito isso, a bel�ssima mulher, de descend�ncia oriental e l�ngua afiada, trajada elegantemente com cal�a e blusa sociais de linho negro, sentada diante de minha vagina exposta, perfura um dos meus l�bios vaginais com um piercing, espalhando dor pelo meu corpo im�vel.



- Unnnrghh – Um grito abafado e in�til. Meus olhos ainda mais marejados. Terminada essa primeira onda de choque, eu vejo ela sorridente. Mas um sorriso leve. Ela leva o alicate at� uma bandeja, levanta outro piercing, leva at� a chama de uma vela, e depois o exibe para minha face assustada.



- Mais um pronto. Faltam...bastante, querida. Ops, vadia. - E come�a a se voltar de novo para meu sexo, com os artefatos met�licos...



- Unnnn!!!!!



- E para esta noite, teremos tr�s surpresas! – Disse ela, trabalhando em mim – Seu queixo vai cair quando as tr�s se revelarem!!!



- UUUNNNNnnnnnnffffffffffff!!!!!!!!



Vamos ver como vim para nessa situa��o, digamos, ex�tica. Tudo come�ou quando eu conheci Apollo. N�o o mitol�gico, mas igualmente bonito. Alto, malhado, cabelos negros sempre muito bem cortados, olhos de um azul espetacular. Sempre muito bem cuidado com sua apar�ncia, mas sem chegar a ser um metrossexual. Inteligente, de modos refinados, senso de humor na medida adequada. Ele era o arquiteto top de linha do escrit�rio onde comecei a trabalhar assim que terminei a faculdade de arquitetura. A mulherada, claro, ia a loucura.

Quando cheguei ao escrit�rio, lembro do impacto que aquele homem me causou com sua beleza e charme. Lembro dele me olhar e sorrir, lembro de perceber ele, atrav�s do reflexo de um vidro de janela, apreciar o meu corpo, bem delineado gra�as a vida saud�vel, meus cabelos castanho-avermelhados, longos e esvoa�antes. Eu, rec�m formada, aos 22 anos de idade, ap�s ter come�ado arquitetura aos 17. Esperando muito da carreira. Eu nem cheguei a provocar, a n�o ser com uns olhares e sorrisos. Queria nem chamar muita aten��o, ia com saias comportadas, camisas de decote modesto, salto baixo. Assim iam passando os dias. Claro que me envolvi com Apollo. E, feito quase garota adolescente, registrei tudo em um di�rio. Fico com vergonha s� de pensar nessas bobagens sentimentais.



- Unnff...unff...unfff.... – Gemia eu, ofegante, ap�s o quarto piercing involuntariamente inclu�do na minha vagina. A mulher de complei��o oriental, ali�s, complei��o de modelo, estralava os dedos, satisfeita com seu trabalho. O meu corpo formigando nas partes presas. Eu j� imaginava estar ficando com a pele arroxeada pela falta de circula��o.



- Aqui est� mais ou menos bom. Vou te dar um refresco, por que n�o sou uma pessoa m�, voc� sabe. Vamos para a barriga. Um bem legal pra esses seu umbiguinho, lindo. – Ela levantou um piercing, de onde se lia em plaqueta pendurada, a palavra VADIA. Eu apenas fechei os olhos, apertados, como se tentasse dizer alguma coisa. Eu senti ela deixando a j�ia sobre minha barriga e escutei seus passos, no alto de suas botas de salto, ecoando pela sala ampla, na verdade um est�dio.



- Enquanto fazemos isso, que tal um filminho? Primeira surpresa. – Eu olhei, da forma que podia na minha limita��o. Ela colocou um DVD no home theater, ligado a uma tela de plasma de 52”. O que eu vi me fez esbugalhar os olhos. L� estava eu, estrelando uma produ��o ins�lita. Nua, com as m�os amarradas atr�s do corpo, ajoelhada na frente de um homem tamb�m nu. O barulho alto das caixas de som do home sobressaiam a tempestade, e ecoavam na sala, para minha vergonha. Se escutava pelo recinto, em som claro:



- Vamos princesinha, quem � o papai, quem o chefe?



- � voc�....s� voc�. – Dizia eu sorrindo no v�deo, enquanto lentamente dirigia minha boca ao seu p�nis, para o sexo oral. Um momento de minha intimidade ali, exibido para meu mais completo constrangimento...



Voltemos no tempo uns dias.



Apollo todo encharcado de vinho Merlot, com face surpresa e assustada. V�rias pessoas em volta olhando. Eu do outro lado da mesa, cabelos produzidos, maquiagem leve e sensual, um vestido longo tomara-que-caia azul, me equilibrando em sand�lias negras italianas de salto agulha com 19 cm. Uma fera, minha pele branca avermelhada pela raiva.



- Como se atreve? Como pode mentir desse jeito? Como pode ESCONDER QUE � CASADO?



- Pro favor, se acalme – Dizia ele constrangido. – Essa cena n�o vai levar a nada...



- Chega, cale-se, por favor, cale-se.



Uma pessoa, ou mal intencionada ou muito ing�nua, tinha acabado de cumprimentar ele, ali naquele restaurante caro, sobre o sucesso de sua mulher, sobre como iam as obras de Ayemi. Que ela era o coment�rio em Roma, suas obras art�sticas ditando tend�ncias. Depois do fato feito, mais umas pouca perguntas e o meu rompante culminando em desperdi�ar o caro vinho no...homem casado a minha frente.

Sa�mos do restaurante sob olhares constrangidos. Eu mandando as favas a educa��o. Passamos pela Hostess simp�tica, que na entrada, nos recebeu dizendo “Que belo casal”. E cham�vamos muita aten��o, eu atingindo 1,89m com os desconfort�veis saltos, apenas dois cent�metros menor que ele. �ramos quase 2 estatuas gregas. L� fora, eu sinalizava por um t�xi, quando senti o colocar de um casaco nos meus ombros desnudos, naquele frio noturno da metr�pole.



- Temos que conversar. – Sua voz mais suave. E mais culpada.



- N�o temos. Mais nada. Como voc� conseguiu esconder t�o bem que era casado? Quer dizer, como � poss�vel algu�m mentir t�o bem, t�o planejadamente?



- Eu errei. Mas � porque eu te adoro, tinha que continuar te vendo, te sentido, te possuindo – E foi se aproximando de novo. Eu empurrei, deixei cair o casaco.



- Eu n�o quero ser amante, Apollo. N�o quero ser a outra, nada disso. Voc� me traiu, tamb�m, me fez me tornar uma pessoa baixa. E agora, vai dizer o qu�? Que ia deixar dela? Para ficar comigo?



- Eu...amo ela, tamb�m.



“Tanto faz”, pensei na minha cabe�a desnorteada. Entrei num t�xi e sumi. Chorando.







J� nem tinha mais for�as naquela cadeira. Meu umbigo e o bico dos meus seios j� haviam sido perfurados e neles, colocados piercings. Ela esfregava meus mamilos com um tipo de len�o contendo uma subst�ncia antic�ptica. Aquilo ardia ainda mais que o ato de perfurar. Eu j� nem queria gemer, s� queria desmaiar, meus bra�os sem sensa��es, presos atr�s da cadeira pelo frio metal.



- Temos que pendurar alguma coisa nesses seios, garota. Um neon? Ou uns sinos em cada um? Vamos, antes, a 2� das tr�s novidades dessa noite. Olha s�!



Ayemi puxou uma corda que pendia do teto e caiu um pano da parede lateral. Uma enorme foto, do tamanho de um p�ster, quase um outdoor, que me mostrava de frente, com uma coleira no pesco�o, a corrente nas m�os de Apollo, ele me penetrando, eu de quatro, com cara de orgasmo. Enquanto eu fitava aquela surpresa, incr�dula, Ayemi se aproximava da minha frente, usando em sua cintura um consolo. Ela me penetrou com o objeto de borracha lubrificado, me pegando desprevenida, e come�ou a arremeter em mim.



- Vamos ver como o Apollo se sentia nessa brincadeira. – E foi aumentando o ritmo.



Eu sou masoquista. Fato. O Apollo sabia disso ap�s a segunda noite de transa, fato. E ele gostava muito disso tamb�m. Me amarrar, as vezes me xingar de cadela, muito de vez em quando me dar uns tapas nas n�degas. Era por isso que aquelas imagens que Ayemi jogava na minha cara estavam naquele contexto. O trabalho de detetive da ag�ncia mais cara havia fornecido a ela v�deos melhores que a bizarrice caseira da Pamela Anderson, fotos quase art�sticas de mim e de Apollo, com viemos ao mundo, mas com acess�rios.



Um dia antes disso tudo acontecer, tudo o que eu queria era esquecer Apollo. Esquecer seus olhos azuis. E por isso trabalhei dobrado. E por causa disso, fui at� a constru��o de uma mulher, uma senhora jovial, que queria contratar meus servi�os. E l�, conversando, discutindo, eu bebi uma x�cara de ch�, que me mandou para o mundo dos sonhos sei l� por quanto tempo. E acordei no est�dio de artes de uma bela mo�a oriental, que suspeito tenha uns 28 ou 30 anos, mas que parece n�o passar dos 21. E assim come�ou minha tortura nas m�os de Ayemi, mulher de Apollo.



Ela retirou o consolo de mim, ap�s us bons minutos estocando, e brincado com meus seios com as m�os. O p�nis falso pingava liquido sa�do de mim.



- �timo. Excelente nossa performance, lindinha. E agora, terceira surpresa. Hoje, meu trabalho de arte � na sua mente, minha querida vadia.



Ela saiu da minha vis�o e foi at� um canto qualquer do est�dio. Outro rel�mpago me permitiu ver que ela empurrava algo coberto por um pano, parecia uma caixa. Meu cora��o querendo arrebentar o meu peito, de expectativa. Isso era a tortura maior de Ayemi, por mais que o local estivesse cheio de apetrechos BDSM, repleto de instrumentos de dor. Eu tinha visto, quando terminei com Apollo, os trabalhos dela. Intensos, fortes, evocativos do mundo do sadomasoquismo, tanto nas pinturas quanto nas artes pl�sticas. Tinha visto ela em uma revista. “A musa da arte underground” dizia a reportagem, e fotos dela, posando, apareciam, ofuscando as modelos das folhas de an�ncios.



- Ok, vejamos o que t�m atr�s das cortinas... – e puxou o pano. Uma jaula, com um homem nu l� dentro. Seus p�s com algemas longas, uma cinto met�lico na sua cintura, suas m�os para presas por corrente nesses cintos. Apollo, mais parecido agora com Prometeu, o tit� mitol�gico acorrentado. Sua boca coberta por uma mascara de couro e metal, e marcas vermelhas de chibatas pela sua pele. Uma coleira estranha em seu pesco�o, de apar�ncia pesada e eletr�nica.



- Enfim, chegamos ao ponto. Eis nosso Apollo, meu marido Apollo, seu amante Apollo. Vamos, querido – Ela abriu a jaula. Voc� tem de cumprimentar nossa h�spede. Derrame sua semente nela, como puder.



Apollo ficou quieto na sua jaula. Eu chorava mais que nunca, vendo tudo aquilo, com medo do que aconteceria conosco. Pois que, do grau de planejamento daquela mulher, eu esperei de tudo. Antevia um final tr�gico, para todos n�s tr�s. Os tr�s, porque ela, por mais que tentasse esconder, revelava algo de magoado, de entristecido em sua face delicada.

Para estimular a a��o do marido subjugado, Ayemi retirou do bolso da cal�a algo que parecia um chaveiro, e ao apertar de um bot�o, o corpo de Apollo estremeceu e tombou ao ch�o. Uma corrente el�trica sa�da da coleira lhe fizera o efeito.



- Agora que entendemos o karma da falta de educa��o, fa�a o que mandei, Apollo. Fa�a o que fez tantas vezes, longe de mim. Derrame sua semente na menina linda.



Apollo se recuperando, n�o mais parecendo o homem altivo dos encontros rom�nticos, das noites selvagens, se levantou e foi em minha dire��o, cambaleando a partir da jaula. Quando chegou perto de mim, me vendo naquela situa��o, aconteceu algo que deixou ambos n�s perplexos. Seu membro ficou r�gido.



- Hmmm, o primeiro passo est� dado, querido. – Disse Ayemi com o controle na m�o.



Apollo come�ou ent�o, de olhos fechados, a friccionar seu p�nis na minha coxa pela lateral, seus movimentos limitados os seus. Apesar do absurdo da situa��o, pela primeira vez desde que nos conhecemos, ele sofreu ejacula��o precoce. Seu s�men jorrou pela minha perna e barriga poucos segundos ap�s seus movimentos. Ele caiu, de joelhos, abatido, derrotado. Eu senti pena. N�o sei, mas acho que Ayemi tamb�m.



- Que desgra�a, Apollo. – Ela apertou o bot�o, ele convulsionou e caiu ao ch�o.



- Unnnnnghhhhhh!!!



- N�o precisa ficar desesperada, foi s� atordoante. Ele est� apenas desacordado – Com esfor�o ela arrastou ele para dentro de sua pris�o, e novamente cobriu com o largo tecido negro.



- Bem. Esqueci de um lugar. T�m mais uma argolinha para voc�. A l�ngua, claro, como voc� esqueceu-se disso? Iria turbinar seu sexo oral. – Ela veio at� mim, soltou presilhas no meu pesco�o e do topo do capuz, puxando a apertada pe�a que cobria minha cabe�a, com for�a, quase como se estivesse tirando minha pele. Depois puxou o bastonete de borracha enfiado em minha boca, recoberto de saliva, e jogou tudo ao lado.



Eu n�o gritei, nem adiantaria na tempestade. Apenas olhei pra ela, recuperando meu f�lego. J� n�o sentia mais minhas pernas e m�os, meus seios do�am como se estivessem em chamas, comprimidos que estavam. N�o gritei porque n�o consegui sentir raiva daquela mulher, que apanhava os instrumentos necess�rios para manter minha boca aberta na aplica��o do piercing de l�ngua. Sentia sim, empatia, apesar da tortura, e nada a ver com S�ndrome de Estocolmo. Porque agora eu a via chorando em catarse emocional.



- Ayemi...



- Cale-se, VADIA. Fique quieta. Voc� arruinou minha vida. – Lagrimas escorriam de sua face. – Eu achava que confian�a era tudo, sabia? Eu achava que conhecia as pessoas de quem eu gostava – Ela jogou longe as pin�as met�licas. Mas eu vou retribuir, mulher, vou fazer voc� sentir, eu vou.... – E foi ao ch�o de joelhos, chorando.



- Ayemi, antes que voc� fa�a alguma coisa errada...-comecei a falar reunido for�as para terminar a senten�a, entre minhas pr�prias l�grimas...- preciso que voc� me conceda uma gentileza. Preciso apenas de mais uma coisa, uma quarta surpresa. Depois disso, voc� pode fazer o que quiser comigo.



Ela recobrou a compostura. Limpou as lagrimas. Vi que consegui ganhar a curiosidade dela.



- O que? – Ela perguntou com sua voz tornando a ser controlada.



- Na minha bolsa estava a chave de minha casa. Imagino que a esta altura voc� j� deve saber onde eu moro. Eu s� pe�o que as pegue, v� at� minha resid�ncia, e encontre o meu quarto, o �nico mobiliado. Na �ltima gaveta da escrivaninha t�m um fundo falso, l� est� meu di�rio, que escrevo desde que cheguei nessa cidade. Eu s� quero que voc� o leia. È algo muito intimo meu. E agora � seu.



Sem dizer palavra, ela me amorda�ou, desta vez com uma fita adesiva grossa e prateada, e me cobriu os olhos com uma venda. Escutei ela saindo de casa. Tentei me comunicar com Apollo em sua jaula, mas tamb�m s� ouvi grunhidos vindos de l�. E o tempo passou. E esperei que Ayemi visse, no di�rio, que eu nada sabia de Apollo ser casado. E que tamb�m visse, eu escrevi naquela noite, que ele amava duas mulheres. E o tempo passou, a tempestade l� fora cortava o ar.





Muitas torturas ocorreram depois disso. Mas de uma forma um pouco mais...imprevis�vel, do que pareceria, pelos rumos at� aqui.



Uma bela noite em uma casa confort�vel, grande, aquecida e isolada em enevoadas serras. Eu solto meu corpo despido, relaxado sobre os len��is de cetim na cama. Ayemi abra�a-me, tamb�m nua, por tr�s, seu bra�o sobre meus seios, suas pernas se entrela�ando nas minhas. As chamas da lareira a g�s no quarto refletem nos meus olhos de um verde extremo. A suave tatuagem de drag�o e flor de l�tus no ombro dela � iluminada. Duas belas mulheres ali deitadas, felizes como nunca.



- Estava pensando naquela noite em que a gente se conheceu. – Eu falei a ela.



- O que t�m? Se for para perguntar pela mil�sima vez se eu ia matar voc�s antes de ler o di�rio, eu j� disse, � claro que n�o. S� ia dar mais uns tabefes.



- Eu nem vou discutir a situa��o “Jogos Mortais” que voc� me colocou. N�o, eu ia perguntar, como uma modelo, artista internacional, afinal, aprendeu a colocar piercings t�o mal?



N�s duas rimos alto. Ela me perguntou, como quem pergunta o que vai ter para o caf�:



- Quando estava te torturando, eu senti meu cora��o bater mais r�pido olhando seu corpo, voc� � t�o bonita. Voc� nunca pensou em, sei l�, modelar?



- Qual o que. Olha quem fala. E voc� sabe, odeio salto alto, s� uso quando a ocasi�o ou voc� me obrigam.



Ela riu de novo e me beijou o pesco�o. Depois meu rosto, depois nossas bocas se encontraram. N�s quase nuas. Eu ainda vestindo longas luvas brancas apenas, que usava quando era necess�rio se evitar que ficassem marcas de corda nos bra�os e pulsos, quando se tinha alguma festa ou coisa assim. N�o pega bem aparecer de vestido de gala e pulsos vermelhos em um evento. Uma corda longa est� solta, feito cobra, sobre o tapete.





Naquela noite de tempestade, Ayemi leu meu di�rio, e viu que eu era inocente. E ainda mais, viu tantas coisas que t�nhamos em comum, tantos detalhes de vida compartilhados. E eu perceberia, que quando olhava as fotos dela na revista, que quando recordava da fat�dica sess�o de “revanche”, que quando lembrava da face dela, estava descobrindo uma nova parte de mim. Naquela t�o estranha noite, quando Ayemi voltou molhada da chuva, e me soltou, ela desabou no choro em meus bra�os, e eu acariciei seu cabelo. Levou pouco tempo para nos procurarmos de novo.



Apollo? Ela se separou dele. Ajudou a abrir seu pr�prio escrit�rio, inclusive, pois era muito bem financeiramente, deixou que ele ficasse com a metade que lhe apetecia. Mas me parece que ele n�o foi mais t�o bem sucedido. Descobri que ele n�o era tudo que parecia nas artes arquitet�nicas, muito da sua criatividade vinha de Ayemi, sem ela, seu trabalho ficou bem trivial. E sua vida amorosa, agitada pela sua beleza e eleg�ncia, ficou incompleta, j� que suas duas paix�es n�o mais estavam em sua vida.



N�s duas formamos um par muito pr�spero. Combinamos nossas criatividades nos trabalhos uma da outra. Sozinhas �ramos muito competente no que faz�amos, juntas, ent�o... N�o demorou para fazermos fortuna, e ela ainda mais fama com seu trabalho. Eu abri meu pr�prio escrit�rio de arquitetura, e, em menos de um ano, comprei a firma na qual eu e Apollo nos conhecemos.



Ayemi era e � muito carente de confian�a. Assim como eu. Seu est�dio lotado de apetrechos sadomasoquistas ela usava para inspira��o em seu trabalho, contratando prostitutas e garotos de programa para fazerem cenas enquanto ela se inspirava e estudava os movimentos deles, oculta nas sombras. Mas ela nuca se envolveu com isso diretamente. Nunca se deixou levar pela excita��o, fiel que era a Apollo quando eram casados. At�, sim, nos relacionarmos.



Engra�ado pensar naquela noite. Porque hoje continuamos a praticar nossas se��es, certamente, com igual intensidade ou ainda mais “hardcore” do que naquela vez. Sem a m�goa e o medo para nos atrapalhar, claro, fica muit�ssimo mais prazeroso. As cordas espalhadas pelo ch�o, a algema num canto, o chicote nos p�s da cama, tudo ali agora, junto de n�s, s�o a prova dessas nossas fantasias realizadas. Isso que pegamos bem leve nessa noite.



Eu sempre a escrava, a vitima. Ela sempre a algoz, a captora. Ou quase sempre. Eu meio que precisava me vingar – num sentido divertido, � claro – da primeira noite, e bolei um estratagema, certa vez, para faz�-la sentir um pouco (muito) o outro lado da corda. Mas essa, essa fica para outra hist�ria...



Estamos por ai, e se me perdoe à falta de mod�stia nessas ultimas linhas, temos apar�ncia de modelos, profissionalmente bem sucedidas, financeiramente poderosas. Intelig�ncia e criatividade completam o pacote. Apenas digo isso porque estamos planejando. Planejando trazer mais uma pessoa para testar nossa vida sexual por uns tempos. Mais uma pessoa para noites de dor delirante e prazer imenso. Estamos armando uma teia, manipulando as coisas e os eventos para que essa pessoa chegue at� n�s. J� percebeu?



Sim. Essa pessoa � voc�, que est� lendo esse texto agora.



Cuidado com as propostas de trabalho repentinas, as oportunidades boas demais para serem verdade vindas do nada, cuidado com as noites escuras e com novos estranhos que apare�am nos pr�ximos dias. Faz tudo parte do nosso plano, para lhe arrastar para nossas vidas. Sinta o doce e calcinante sabor da expectativa, e tenha cuidado. Ou apenas relaxe, prometo que assim vai doer menos...



Eis a quinta surpresa. Bons sonhos nesta noite, e lembre-se, nunca se sabe onde voc� vai acordar....

















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(Sou heterossexual, mas escrevo uma hist�ria um pouco diferente em homenagem a minha grande amiga que serviu de inspira��o para uma das hero�nas do conto. Oriental, linda e inteligent�ssima, recentemente foi agredida por ser homossexual, indo at� parar no hospital. Melhoras, K�. Quem sabe um dia eu at� deixe de resistir e aceite seus convites ;)

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