“Como o cheiro da ma��”
01
O dia estava quente na tranquila Piedade. Os term�metros marcavam rente aos 34 ª graus na sombra e sem previs�o de temperaturas mais amenas pelos pr�ximos dias.
O Sol era uma bola redonda e escaldando na cabe�a dos moradores da pacata cidadezinha.
Localizada à 270 km da capital paulista e com n�o mais do que trinta mil habitantes, o numero populacional exato poderia ser visto em letras garrafais na placa suspensa colocada no inicio da estrada que levava ao centro da cidade. “BEM VINDOS � PIEDADE” e mais abaixo no lado direito do letreiro “Popula��o 26.752”, a pacifica cidade era bela e verde. Aconchegante e receptiva. Se o visitante fosse atento iria reparar nos dois furos sobre a letra O da palavra “VINDOS”, sinal de que algu�m andara praticando tiro ao alvo por ali, mas se o visitante n�o reparasse nos tiros feitos à bala, n�o precisava se preocupar. Piedade era de longe uma cidade violenta. Muito pelo contr�rio, o sossego e a seguran�a eram quem comandava as estreitas e ajeitadas ruazinhas. Ah! E ali pode-se tamb�m apreciar a melhor torta de ma�� da regi�o, mais especificamente no restaurante do Portugu�s que fica em frente à arborizada e oval Pra�a das Rosas no centro de Piedade.
02
Acordou às 08:00 horas da manh�. Seu corpo insistia em n�o querer se levantar da cama. Seus olhos cansados e pesados pareciam cheios de gr�os de areia, a cabe�a do�a e a garganta al�m de seca estava �spera como um peda�o de lixa, resultado de uma noite recheada de carne, cerveja e baralho. Com muito esfor�o se levantou.
Enquanto escovava os dentes e lavava o rosto prometeu a si mesmo que nunca mais iria a um churrasco de domingo. A partir daquele momento churrasco s� se for na sexta-feira ou no s�bado. Sabia que seria uma promessa dif�cil de ser cumprida, mas, n�o custava tentar.
Olhou para o rel�gio no pulso enquanto penteava os ondulados cabelos castanhos, era quase 08:30 da manh� tinha que estar no trabalho no m�ximo às 09:00 horas, pelo contr�rio iria ouvir umas poucas e boas do Sr. Afonso e o que menos queria naquela segunda-feira ressacada era o patr�o falando na sua orelha.
O caf� da manh� estava pronto, a m�e j� havia posto a mesa. Caf� puro ou com leite, p�o franc�s e bolo de fub� feito pela pr�pria. Marcos escolheu a primeira op��o. Quem sabe o caf� forte n�o dava uma reanimada nos nervos? – pensou.
- Bom dia – disse Lucas seu irm�o mais novo enquanto apreciava um gra�do peda�o do bolo.
- Bom dia – respondeu Marcos sentando na cadeira, sua a voz saiu arrastada e pastosa.
Dona Rosa estava no quintal estendendo algumas roupas que acabara de sair do tanque.
- Nossa! – exclamou o irm�o. - Voc� ta um caco cara. Por acaso dormiu na sarjeta?
- N�o me enche!
- Meu amigo que noite, hein? – continuo Lucas e caiu na gargalhada.
Marcos fez uma careta para o irm�o e tomou logo seu copo de caf�.
- Bom dia, meu filho! – disse Dona Rosa entrando pela porta.
- Bom dia, m�e! – Marcos respondeu com a mesma voz cansada e arrastada sem levantar os olhos. Estavam demasiadamente pesados.
- Coma um p�o ou um peda�o de bolo filho. – disse a mulher secando as m�os no avental.
- N�o m�e. N�o quero.
- Mas Marcos... – insistiu ela.
- M�e! N�o quero, j� disse. – falou irritado.
- Vixi, al�m de acordar com ressaca, esta de ovo virado. – disse o tirador de sarros do seu irm�o caindo na gargalhada novamente. Que naquele momento parecia a vers�o mirim do Sr. P� no Saco.
- Dezoito anos e abobado! – revidou Marcos com desd�m.
- �? Mas pelo menos n�o to parecendo um zumbi.
- Lucas fique quieto e deixe seu irm�o em paz – interviu a m�e.
Marcos olhou para o rel�gio da cozinha j� era 09:00 horas.
- Bom! M�e, j� vou indo.
- Fica com Deus e bom servi�o – disse aben�oando o filho.
- Tchau Sr. P� no Saco! – disse se despedindo do irm�o.
- Espera...Tamb�m vou sair.
Lucas pegou a mochila que estava pendurada na cadeira e os dois sa�ram se empurrando pela porta.
03
Marcos chegou no servi�o com quinze minutos de atraso, mas teve sorte porque o Sr. Afonso, um portugu�s chato e turr�o, n�o foi trabalhar. Tinha ido ao m�dico na cidade vizinha conforme havia dito sua esposa.
Em Piedade havia um �nico posto de sa�de que atendia somente emerg�ncias, em casos mais complexos ou graves os pacientes eram transferidos para um hospital mais estruturado. E o mais pr�ximo se localizava em Soberba, terra do milho e da cana-de-a��car. E somente l� que o Sr. Afonso podia tratar das dores cr�nicas em sua coluna, resultado do stress e do mau humor. Clara nunca pode entender os motivos pelo qual seu marido vivia sempre de cara fechada. Muitas vezes com seu jeito compreensivo tentou conversar com ele, mas a ignor�ncia do homem era simplesmente indiger�vel e ela n�o se dava mais ao trabalho de continuar com o assunto. Grosso e est�pido. Isso sim � o que ele era.
E naquela manh� quente de ver�o, gra�as aos c�us, foi Dona Clara quem abriu o restaurante.
Clara Cort�s ou somente Clara, como preferia ser chamada socialmente, era totalmente o contr�rio de seu marido, o Portugu�s, como ele era conhecido no bairro. Ela era gentil e tinha a voz delicada e apesar de seus 37 anos era detentora de um avantajado quadril. Seus olhos verdes e brilhantes se destacavam no rosto fino e claro. As rodelas vermelhas nas bochechas eram marcas vis�veis de quem nunca se acostumaria com o t�rrido clima brasileiro e olha que j� fazia 19 anos que ela residia em S�o Paulo.
O casal portugu�s n�o tinha filhos e pelo menos na opini�o de Marcos pareciam n�o se importar com isso. Eram apenas os dois, o restaurante e mais ningu�m. Bom pra eles.
Naquele dia a enxuta portuguesa estava usando um vestido branco e cumprido de al�as leves e finas. Seus cabelos lisos e ruivos se destacavam de forma singela no alto de sua cutis clara. E talvez pelo fato do seu patr�o n�o estar ali Marcos come�ou a reparar na patroa. Nunca em seus 08 meses trabalhando como ajudante geral no restaurante olhou-a com outros olhos. Balan�ou a cabe�a para que os pensamentos indevidos espessassem e foi varrer a frente do estabelecimento.
Por volta das 10:30 da manh� Marcos terminou de lustrar as mesas e as cadeiras e ent�o deu meia volta no balc�o para guardar o pano e o produto utilizado na limpeza.
Sua cabe�a do�a e seus pensamentos estavam distantes n�o faziam parte da mon�tona rotina do trabalho. Sua mente voltava aos bons e picantes momentos que havia passado com Fabr�cia antes de se embebedar como um gamb� velho, na noite anterior, no anivers�rio de Jack Lee, seu amigo de inf�ncia, e com isso perdendo a oportunidade de possui-la. Ao contr�rio de Lee que papou f�cil, f�cil a prima da garota. Nunca mais vou beber – pensou lastimado. At� parece! Mal sabia ele que estaria com os mesmos pensamentos e com os mesmos arrependimentos no pr�ximo final de semana. Um gamb� b�bado e velho que desperdi�ava in�meras noites de sexo. � isso o que ele era.
Agachou atr�s do balc�o e aqueles pensamentos indelicados referentes à sua patroa voltaram à tona, como flechas penetrantes, para dentro de sua mente.
Dona Clara estava agachada sobre as duas pernas. Com uma m�o ela se apoiava no batente frio da porta de alum�nio e com a outra ela ajeitava o interior do freezer. Os bicos dos seios dela endureceram quase que instantaneamente por causa do ar frio que saia da comporta e sob o vestido a calcinha fina, como ele pode constatar, se afunilava para dentro de um par suculento de n�degas carnudas.
O peda�o de pano que iria ser guardado passou a ter novas utilidades.
Quase que inconscientemente sua m�o come�ou a esfregar com movimentos repetitivos e circulares a superf�cie lisa do balc�o. Olhava com olhos cerrados para a bunda e seios de sua patroa e iria ficar ali enrolando at� onde desse.
- A senhora quer ajuda? – perguntou Marcos como se n�o quisesse nada e se aproximou.
- N�o tudo bem! S� estou ajeitando isso aqui. – disse a mulher.
Marcos se sentia muito bem. Os sintomas da ressaca deixaram de vez o seu corpo e agora ele se deliciava com aquele momento. Sem fregueses e sem o patr�o. S� ele e a patroa. A ajudante de cozinha, Joseane, chegaria somente as 11:00 horas para dar inicio aos afazeres. Tinha no m�nimo uns 20 minutos para apreciar a situa��o.
Sentiu seu pau endurecer como uma pedra por dentro de sua cal�a e n�o fez quest�o de disfar�ar. Pra qu�? O que poderia acontecer se ela o visse daquele jeito? Sair gritando? Nada disso. Ele simplesmente desviaria o olhar e continuaria a esfregar. E l� ele ficou desinfetando cada cent�metro e canto do balc�o. Mais tarde, ele pr�prio, constataria que jamais vira aquele balc�o t�o limpo como hoje.
- Marcos! – chamou a dona.
- H�? Sim Dona Clara! – respondeu como se estivesse saindo de um transe.
- Voc� est� bem? – perguntou ela sorrindo ainda agachada.
- Estou sim! Desculpe-me! S� estava pensando em algumas coisas.
- Passe-me àquelas garrafas, por favor. – disse ela apontando para o lado.
Marcos se virou meio que desajeitado e pegou um engradado que estava atr�s de si e o arrastou para o lado dela.
Tomara que tenha mais garrafas pra senhora guardar – pensou ele com o membro duro e pulsando dentro do jeans.
04
J� passava das 11:00 horas e nada de Joseane, a cozinheira, chegar. Clara caminhava de um lado para o outro agitada, pois contava com a garota para ajuda-la no preparo das tortas.
Os pensamentos pervertidos mais uma vez deixaram sua mente da mesma forma como haviam entrado, como um flecha. Apoiado por sobre o balc�o Marcos seguia com os olhos sua patroa como se estivesse assistindo a uma partida de t�nis. O som seco e abafado dos tamancos da mulher era um tanto irritante.
- Dona Clara! – disse ele.
- Sim, Marcos. – respondeu a mulher parando e levando a m�o ao queixo.
Para o rapaz aquele gesto soou como “O que vou fazer agora?”.
- N�o se preocupe senhora. Ela vai chegar. – disse rodeando o balc�o.
Antes que suas palavras pudessem amenizar a angustia da mulher o telefone tocou. Ela o olhou como se j� soubesse quem era. Clara caminhou at� o telefone que ficava na ponta do balc�o ao lado da caixa registradora e o atendeu. Como um gesto inconsciente de educa��o Marcos foi para a frente do estabelecimento. Odiava ouvir a conversa dos outros ao telefone. N�o sabia explicar. Apenas n�o gostava. Ele ouviu alguma coisa como “Mas voc� vai ficar bem? e ainda um “Tudo bem at� amanh�”.
A mulher colocou inconsolada o telefone no gancho. Estava mais pensativa que antes, pelo menos foi essa impress�o que Marcos teve ao v�-la ainda parada em frente ao aparelho.
- Ai meu deus! E agora! – exclamou a mulher passando a m�o por sobre a testa.
- O que houve, Dona Clara?
- A Joseane n�o vem trabalhar hoje. Ela est� muito doente. E justo hoje que preciso dela! – desabafou Clara.
Marcos n�o fez quest�o de questionar sobre o tipo de doen�a que Joseane apresentava. Estava muito preocupado com sua patroa e na verdade l� no fundo, onde ningu�m poderia sondar, ele havia gostado da id�ia. Quem sabe? – pensou ele com um sorriso maroto no canto da boca. Um sorriso t�o sutil que nem mesmo ele se olhando no espelho poderia percebe-lo. Ele se aproximou da mulher.
- Dona Clara. Ser� que eu n�o posso ajuda-la? – perguntou. - Sei l�, afinal n�o estou aqui somente pra lustrar o balc�o e servir os clientes.
Clara levantou os olhos, que naquele momento brilhavam liquidamente. Ela estava chorando. Apesar de as lagrimas n�o escorrerem pelo rosto. Ela estava chorando.
- Marcos o problema � que hoje � o dia das tortas. – respondeu ela. – S�o mais de 150 ma��s para cozinhar, descascar e cortar. Al�m de trinta encomendas j� vendidas. E digo mais, n�o podemos nos esquecer do almo�o.
- Entendi. – respondeu olhando para o ch�o e pensando numa solu��o.
Iria ajudar Dona Clara. Encontrar uma solu��o mesmo que passasse o dia inteiro sentado descascando e cortando as benditas ma��s. Ele era muito bom nisso. Em sair de enrascadas. De quantas situa��es dif�ceis n�o havia se safado junto com Lee? Aquela n�o era nada se comparada com a vez em que ele e Jack tiveram que escalar um muro de tr�s metros para sa�rem ilesos, daquela que seria a maior surra da vida deles, ap�s terem se envolvido com as namoradas dos lutadores de Jiu Jitsu. � claro que elas n�o falaram que tinham namorados e eles tamb�m n�o fizeram quest�o de perguntar. Por este motivo n�o eram mais bem vindos no gin�sio de esportes em Soberba. E continuou pensando, fritando seu c�rebro pervertido. Roia nervosamente as unhas. E de repente. Plinnnnnnn! A solu��o explodiu na sua mente como o flash instant�neo e luminoso de uma m�quina fotogr�fica.
- Dona Clara! – disse olhando novamente para a mulher. - Tenho uma alternativa!
Ent�o o rapaz come�ou a falar. A mulher ouvia atentamente, às vezes balan�ando positivamente a cabe�a, outras n�o.
O rapaz falava, explicava e gesticulava para Clara. Chegou at� a pegar um papel e uma caneta onde esbo�ou um pequeno gr�fico. Um tanto desordenado, mas o suficiente claro para que a dona do restaurante pudesse entender e se sentir um tanto aliviada. Mal sabendo que iriam criar sem querer o “Dia da Torta” em Piedade. Eles trocaram olhares sorridentes e confiantes e ent�o deram inicio à dif�cil tarefa.
05
Enquanto que do lado de fora do simples, mas aconchegante “Cantinho Piedade” fregueses liam decepcionados o aviso no cartaz de cartolina que dizia: POR MOTIVOS EXCEPCIONAIS ABRIREMOS MAIS TARDE. Do lado de dentro do estabelecimento Dona Clara e seu astuto empregado trabalhavam à finco na id�ia do rapaz.
Com uma esperteza que ia al�m de fugas extraordin�rias e cantadas mal feitas, Marcos surpreendeu Dona Clara. A id�ia era muito simples e, baseada em c�lculos simples da velha e chata matem�tica, consistia em fechar o restaurante. Nada de almo�o para os poucos gatos pingados que costumavam frequentar o local.
Como o pr�prio Marcos j� havia reparado o carro forte do neg�cio eram as caseiras e deliciosas tortas de ma��s, preparadas de maneira artesanal pela dedicada esposa do Potugu�s.
Se o casal, ao inv�s de perder tempo com o preparo do almo�o, trabalhasse s� com a venda de tortas estariam em situa��es financeiras melhores. Poderiam at� mesmo atender à demandas vindas de outras cidades, o que atrav�s de um marketing bem organizado e do popular “boca à boca” n�o seria imposs�vel. Mas para isso a mulher teria que enfiar, na cabe�a quadrada e geniosa do marido, suas id�ias e inten��es. E isso com certeza era algo que ela n�o iria fazer. – deduziu o rapaz. Dona Clara n�o tinha mais tanta paci�ncia com o esposo. Era como o famoso ditado dizia “Viver por viver”.
Marcos lavava as frutas e as entregava à Dona Clara que habilmente arrancava os pequenos talos e as depositava no enorme caldeir�o de �gua.
- Ser� que vamos conseguir? – perguntou a mulher enquanto colocava dentro do recipiente de �gua efervescente a ultima ma��.
- Vamos sim, Dona Clara! – respondeu o rapaz confiantemente. - Pode ter certeza. N�s vamos conseguir.
A postura radiante e decidida do rapaz envolveu-lhe por um instante de uma forma que n�o podia explicar. Clara sentia-se segura. E naquele momento desejou ser jovem novamente. Mas...
- Acredito em voc� querido – disse ela amavelmente.
Marcos sentiu um vermelhid�o subir pelo seu rosto e o virou. Disfar�ando. Nunca sua patroa o havia chamado daquela forma.
Aquele sentimento pervertido que sentiu à algumas horas atr�s havia sido substitu�do por uma coisa boa. Diferente. N�o que excita��o fosse algo ruim de se sentir. N�o. N�o � isso, mas agora sentia algo mais brando, suave. Talvez estivesse realmente sensibilizado com a situa��o em se encontrava sua patroa. Mas era um sentimento diferente e pronto. N�o tinha que ficar arrumando justificativas. “- Nada de hero�smo, Marcos!” – disse a voz de Lee em sua mente. “- Fa�a porque quer e n�o porque mandam!” – tornou a ouvi-la.
“Isso mesmo! Estou aqui por que quero e n�o porque mandaram! N�o quero nada em troca por isso. Al�m de um pervertido ainda sou uma boa pessoa” – pensou ele e riu.
- O que vamos fazer agora Dona Clara? – perguntou o rapaz enxugando as m�os.
- Bom, enquanto aguardamos as ma��s ficarem no ponto vamos untar as formas. – respondeu a mulher.
- �timo! Vamos l�! – disse Marcos prontamente.
Sua voz saiu mais uma vez carregada de otimismo e Clara mais uma vez desejou ser jovem outra vez.
Marcos olhava atentamente para a mulher que demonstrava na pratica como untar uma forma. Ele pegou uma e tentou.
- Voc� leva jeito!
- Espero que sim. – disse o rapaz e sorriram juntos.
E l� estavam ambos com as m�os cheias de manteiga e farinha. Aos poucos uma pilha de pequenas formas redondas crescia num canto da cozinha, aguardando assim o momento em que seriam preenchidas com a mais doce das receitas.
06
Do forno para o freezer e estava feito. Trabalho terminado. E por sinal um �timo trabalho. Marcos n�o se lembrava da ultima vez tinha visto aquelas tortas t�o bonitas e saborosas. Talvez nunca. Agora era s� esperar mais uma hora e pronto. As deliciosas tortas estariam no ponto certo para serem servidas.
- N�o acredito! – exclamou Clara sorridente. - Conseguimos Marcos! Vivaaaaa! – e deu um salto.
Os olhos de Clara brilhavam cheios de l�grimas, mas desta vez o sentimento era outro. Felicidade e gratid�o.
- Eu disse pra senhora que conseguir�amos! – disse o rapaz lavando as m�os.
Clara fez o mesmo.
- � verdade. N�o tenho como lhe agradecer Marcos. – disse ela.
- Me agradecer pelo o qu�? – perguntou.
- Pela sua ajuda. Se n�o fosse voc�...sei l�.
- N�o precisa me agradecer por nada n�o Dona Clara. – seus olhos a olhavam profundamente. - Quando precisar de mim novamente � s� falar.
- Obrigado! – disse a mulher e se aproximou do rapaz com os bra�os abertos.
O rapaz à principio ficou sem gra�a e demorou alguns cent�simos de segundos para assimilar a situa��o e retribuir o abra�o que Dona Clara que lhe dava.
Um abra�o caloroso e compreensivo que ambos h� muito necessitavam. De um lado um rapaz cheio de vida, brincalh�o, por�m um tanto perdido em rela��o à sentimentos e do outro uma mulher vivida, experiente e que apesar de casada se sentia s�. De rostos colados sentiam nos corpos um momento de carinho e compreens�o entre eles. Um abra�o amistoso, mas que escondia sob o ato um sentimento delicado e camuflado. Um abra�o como jamais haviam recebido, especial, e que aos poucos se transformava em um beijo doce e lento. E demorado. E adocicado. E retribu�do. E agradecido da forma mais singela. Um beijo calmo como um lago no inverno. Com os olhos fechados eles se entregaram de corpo e alma. De mente e cora��o. Com amor e prazer.
A l�ngua do rapaz deslizava delicadamente por sobre o queixo da mulher. O m�sculo �mido e quente continuava sua jornada agora pelo perfumado pesco�o. Retornando pelo mesmo caminho, marcado por um fio quase invis�vel de saliva, encontrava novamente os l�bios carnudos e solit�rios de Clara. O som da respira��o dela que chegava aos seus ouvidos soava à desejo e paix�o. Era uma sensa��o indescrit�vel. Sentia seu corpo leve, flutuando. Arfava junto com ela. Segurava-a pelo rosto. Rosto este que nunca ousaria esquecer. Jamais.
Clara se entregava amolecida. Perdida nos bra�os de Marcos. Puxou-o para mais perto. Sentiu o seu sexo rijo e contundente. Ela estremeceu e o puxou mais ainda. Queria senti-lo. Suas m�os deslizavam pelas costas largas e firmes. Arrancou-lhe a camisa e tornou a beija-lo. Unhas arranhavam delicadamente o dorso do rapaz em movimentos verticais emitindo um som de pele, suor e desejo.
As al�as finas do seu vestido escorregaram mansas. Primeiro uma, depois a outra. A boca do rapaz deslizou mais uma vez agora parando no ombro da mulher. Beijava e cheirava profundamente a superf�cie lisa e arredondada. Beijos molhados estalavam baixinhos e se direcionavam para o lado oposto encontrando assim o seio maduro e pequeno de Clara. A mulher o afastou devagar e agora era a sua l�ngua que desfilava no t�rax de Marcos. Realizava movimentos diversos com sua l�ngua descendo por sobre os gomos musculares da barriga desnuda. Com os olhos fixos nos do rapaz ela abriu habilidosamente sua cal�a. Marcos molhou os l�bios e fechou os olhos. Aguardando o movimento seguinte como em uma partida de xadrez. E l� estava ela. A bela Dona Clara. A mulher do maldito Portugu�s, abocanhando seu pau. Agora quem estremecia era ele.
Com sua boca pequena e carnuda a mulher chupava e lambia o membro do rapaz. Tirava-o da boca, fitava-o e engolia-o novamente. Com ele introduzido dentro de sua �mida e quente cavidade oral ela o masturbava. Batia-o em sua l�ngua e rosto. Lambia-lhe os test�culos e subia sua l�ngua novamente para a base dura do p�nis.
- Meu Deus, Dona Clara! – disse o rapaz segurando-a pela cabe�a com uma das m�os.- Continue, por favor!
- Vai querido! Bata-o na minha l�ngua – disse ela.
- Sim! Sim!
- Agora enfie-o de novo na minha boca. – pediu ela.
- Todo pra voc�! Toma! – disse Marcos atendendo ao pedido.
Suc��o. Sons l�quidos. Molhados. Uma boca, um m�sculo e o mesmo desejo. Saciar e ser saciado.
07
De costas e bem pr�xima ao rapaz Clara sentia novamente aqueles ardentes beijos deslizarem agora pela sua nuca e costas. Com as m�os firmemente apoiadas sobre a mesa à sua frente ela tremia. O vestido era retirado progressivamente entre beijos e lambidas. A l�ngua do rapaz deslizava para baixo e por alguns instantes a mulher à sentiu na regi�o das costelas. Prazer. A l�ngua moveu-se de repente e correu pelo meio das costas. Clara j� prevendo o momento se adiantou. Um movimento em “L” como o do cavalo. Dobrando ligeiramente as pernas, Clara envergou sua cintura para tr�s. A calcinha foi minuciosamente despida por uma fileira de dentes. E Marcos pode tranquilamente se esbaldar entre as n�degas abertas e macias. Primeiro sua l�ngua dan�ou sorrateiramente por sobre o anus da mulher, com movimentos circulares, esf�ricos e em seguida desceu cautelosamente e ent�o ele pode sentir àquele gosto, àquele cheiro que o ludibriava. Sentiu em sua narina uma explos�o de sabores e odores incisos, sexuais e atraentes.
- Nossa Marcos! – gemeu Clara enquanto sentia em sua xoxota o trabalho bem feito da l�ngua do rapaz. - N�o pare querido!
- N�o, n�o vou parar! – disse Marcos abrindo ambas as bandas da mulher e afundando seu rosto novamente.
- Isso! Que delicia! Vai Marcos me chupe toda.
E o rapaz à obedeceu.
Clara com uma das m�os se abria ainda mais. Marcos se levantou precisava senti-la. Penetra-la.
Escalou com a boca as costas da mulher e parou pr�ximo ao ouvido dela.
- Est� gostando Dona Clara? – sussurrou no ouvido da mulher por entre os cabelos avermelhados e sedosos.
- Hum! Estou sim! Quero senti-lo dentro de mim. Por favor – disse Clara com uma voz manhosa.
O rapaz ent�o penetrou deslizante e profundo seu pau na mulher, que emitiu um chiado meloso. Vagarosamente ele movimentava sua cintura para frente e para tr�s. Seu p�nis entrava certeiro, escorregadio. A mulher curvou-se mais um pouco e seus p�s viraram-se ligeiramente para dentro por sobre o tamanco de plataforma alta.
- Isso! Isso! Mete mais! Vai enfia todo ele em mim – falou enquanto se deliciava com a penetra��o.
- Enfio sim Dona Clara! Toma esse cacete pra senhora.
Marcos a segurava pelos ombros e seus movimentos se tornaram mais velozes. Sua bacia batia com for�a na bunda empinada de Clara.
- Toma! Toma! – disse ele elevando a voz.
- Vai! Ai! Ai! Ai! Isso come minha bucetinha! Vai querido mete com gosto! – a voz de Clara tamb�m se elevara um pouco.
A colis�o repetitiva dos dois corpos parecia criar uma energ�tica atra��o entre eles. Sincronizados. Energia sexual sendo expelida da forma mais pura. Marcos passou uma das m�os por baixo das coxas de Clara e suspendeu sua perna. A mulher estava quase que deitada no t�rax do rapaz. Sua vulva arreganhada engolia gulosamente o membro teso e tenro de Marcos.
- Meu Deus, Marcos! Que delicia de pau! Hum!Ai!Ai! Hum! Vai gostoso! – exclamou a mulher com um dos bra�os em volta do pesco�o do rapaz. O outro ainda segurava a borda da mesa.
- A senhora � maravilhosa! – exclamou o rapaz.
- Voc� acha? – perguntou Clara arfando rente ao ouvido de Marcos.
- Sim! Sim! Acho sim! – respondeu.
- Ent�o continua! Vai continua me fodendo!
Do bra�o que segurava suspensa a perna de Clara, uma trilha de veias alta e comprida surgiu. Dentro delas Marcos sentia seu sangue correr ardendo como o fluido de uma bateria. Sentia as palpita��es de seu cora��o claramente nas fontes de sua cabe�a. Era como os pist�es do motor de um Ford. Trabalhavam velozes e agressivos. O rapaz precisava mudar de posi��o.
Ele tirou seu p�nis de dentro da mulher e a pegou pela cintura.
- Fique de quatro no ch�o, Dona Clara.
Atendendo ao pedido rapaz e percebendo o seu rosto vermelho e suado, Clara se posicionou no piso branco e frio. Empinou mais uma vez para cima enquanto o rapaz ajoelhava logo atr�s de si.
Marcos arrega�ou firmemente a estonteante bunda de sua patroa e meteu bala. No instante da penetra��o a xoxota encharcada emitiu um esgar �mido. O pau pulsante do rapaz agora bombardeava sem tr�guas a melada e apertada buceta de Clara.
- Isssooo! N�o para! N�o para! Por favor, n�o para! – suplicava a mulher. - Continua assim que eu vou gozar no seu pau!
- Vai, Dona Clara! Goza pra mim!
Suor e del�rio se misturavam na troca de energias.
- Nossa! Querido! Eu...vou...gozarrrrrrrrrrrrrr! – urrou Clara.
E assim ela o fez. Pegando carona no orgasmo da mulher o gozo de Marcos foi lan�ado para fora em forma de jatos. O rapaz segurava seu pau direcionando os fios de espermas que eram lan�ados viscosamente por sobre o anus e n�degas de Clara.
Por alguns segundos urros de prazer ecoaram pelo pequeno recinto. Clara levantou seu tronco e o encostou sobre o peito suado do rapaz. Suas l�nguas mais uma vez se encontraram e Marcos a abra�ou carinhosamente.
08
Como havia dito o rapaz com todo a certeza do mundo eles conseguiram. Naquele dia, mesmo abrindo o restaurante um pouco mais tarde, a venda das tortas tinha sido um sucesso. Seu patr�o chegou quase no final do expediente e seus olhos brilharam ao encontrar o ambiente t�o cheio naquela hora da noite. Clara estava decidida iria falar com o marido a respeito da id�ia de Marcos e se ele n�o a aceitasse lhe daria um chute t�o grande no rabo que ele poderia interpretar o Corcunda de Notre Dame no teatro de Soberba por uma d�cada.
O “Cantinho Piedade” encerrava as atividades do dia e como pr�mio Marcos havia ganhado dois dias de folga. Mas o grande e verdadeiro pr�mio veio dois dias depois enquanto descansava no seu ultimo dia de folga.
Marcos foi surpreendido pela visita inesperada de Clara. Um dos olhos da mulher estava levemente roxo. O murro n�o havia sido t�o violento como o de uma semana atr�s. Ent�o conversaram por algumas horas. O rapaz ouvia atentamente o que a bela mulher lhe dizia. Ele às vezes à interrompia para realizar algumas perguntas e as vezes s� a ouvia olhando fixamente para os belos olhos � sua frente. Riram e choraram juntos ali. Abra�aram-se e por fim se beijaram. Amar e ser amado.
09
Ap�s expor as id�ias para o marido, Clara j� sabia quase que instintivamente o que iria escutar.
- Voc� est� louca? – gritou Afonso.
- Afonso! Ser� melhor para o restaurante. – disse ela tentando explicar ao homem que nada mais fazia al�m de gritar e esbravejar contra ela.
- O neg�cio � meu e fim de papo, sua vadia! Voc� n�o passa de uma mula.
- O que voc� disse? – perguntou a mulher com os olhos firmes e cheios de l�grimas.
- Eu disse que voc� � uma V-A-D-I-A! – repetiu Afonso pausada e desafiadoramente.
Clara se aproximou e deferiu o golpe que pegou em cheio no lado direito do rosto do homem. Com uma for�a ainda maior ele o devolveu. A mulher cambaleou e um fio de sangue escorreu do seu nariz.
Ent�o come�ou a confus�o.
Tr�s homens que passavam em frente à casa do casal percebeu o que estava acontecendo e correram para acudir a mulher que se encontrava encolhida num canto da sala enquanto seu marido exibia e balan�ava uma longa cinta afivelada.
Antes de usa-la contra a indefesa mulher, um soco que talvez nunca saiba de onde veio e como o atingiu, o fez cambalear tonto. Desengon�ado correu para a porta e tomou a rua.
A policia chegou ao local, mas Afonso j� havia fugido e deixado para tr�s um bando de homens grandes e revoltados, que dariam qualquer coisa para terem a chance de colocar novamente suas m�os em cima do coro do verme covarde.
Depois disso nunca mais o homem foi visto. Ele n�o ousaria se aproximar de Piedade outra vez. O que para Clara foi uma �tima noticia. Enfim estava livre do chicote daquele monstro.
10
Um m�s depois do acontecimento Clara e Marcos assumiam felizes o romance. Romance este que duraria para o resto de suas vidas. No come�o as pessoas estranharam afinal de contas ela era dez anos mais velha que ele, mas logo se acostumaram.
Como um sonho que se profetizava, as tortas de ma�� se tornaram sucesso em Piedade e arredores. Eram vendidas mais de 500 unidades por semana para padarias, docerias e at� para sorveterias e empresas das cidades vizinhas.
E assim os dois seguiram adiante na vida.
Como o cheiro da ma��, o amor os envolveu doce e plenamente. Sem medo e sem culpa. Deixando para tr�s um passado confuso e mon�tono.
FIM
_____________________
Rafael Ceccacci
S�o Paulo, 20 de Agosto de 2008.