09 de junho de 1996, domingo
L�cio: 37 Marisa: 35 Laura: 19 Suzana: 33 C�ntia: 13
Caiu em um sono pesado e s� acordou com o sol alto, Laura n�o estava na cama fazendo com que imaginasse que havia sonhado, como em tantas outras noites, ter finalmente tido coragem de sair desse mundo de sonhos incestuosos para p�r em pr�ticas os desejos bestiais.
Espregui�ou e pulou da cama entrando no banheiro para uma ducha reconfortadora antes de sair para a copa onde Joana – a empregada – assistia um desses programas evang�licos.
– Bom dia seu L�cio! – cumprimentou com jovialidade abrindo aquele sorriso c�ndido que os encantou quando a conheceram no interior – O senhor vai querer suco?
Fez um carinho na cabe�a de Joana e sentou à mesa onde j� estava o jornal e um bule fumegante, de caf�.
– Bom dia Joanina... A Laura j� acordou? – procurou ser o mais dispersivo poss�vel abrindo o jornal e perguntando como se n�o importasse a resposta, mas morrendo de curiosidade sobre o paradeiro da filha.
– Saiu foi cedo... – colocou o sexto de p�o e um copo de suco se manga, em sua frente – Tava numa alegria que fazia gosto, disse que ia na casa da Andr�a e que voltaria pro almo�o...
“Tava numa alegria que fazia gosto” reverberou na mente e novas d�vidas povoaram o pensamento – ser� que n�o foi sonho?
A manh� quente daquele s�bado de d�vidas pareceu n�o correr, a todo instante olhava para o rel�gio de pulso, estava inquieto.
– Que fa�o pro almo�o, seu L�cio? – Joanina entrou no quarto – Posso fazer assado de panela?
N�o importava o que teria para o almo�o, na verdade nada importava naquela manh�.
– Fa�a qualquer coisa... Assado de panela � uma boa pedida, Laura adora...
– Vou fazer tamb�m feij�o branco com toucinho, posso? – Joanina olhava fixo e ele ficou incomodado – Ela adora feij�o preto com toucinho...
Joana trabalhava com eles desde as f�rias passadas quando viajaram para Buriti Bravo a convite de uma amiga de Marisa. Estavam sem empregada desde que Nizeth se casara e acompanhou o marido para S�o Paulo, onde trabalha, ainda hoje, em uma pequena industria de pe�as automotivas. Foi Solange quem sugeriu trazerem a filha de D. Maria – antiga e confi�vel moradora da fazenda – que tinha tido uns probleminhas bem comuns à sua idade: o namorado lhe havia deflorado (como se essa flor fosse poss�vel ser despetalada!).
– Voc� � quem sabe, Joanina! – recostou-se ao espaldar da cama e cobriu o colo com o jornal aberto – Fa�a o que ela gosta.
Joana deu um sorriso maroto e saiu, faceira, em dire��o à cozinha. Ficou imaginando se a negrinha n�o sabia de alguma coisa que ele pr�prio desconhecia. Abanou a cabe�a espanando a d�vida cruel e voltou a prender a aten��o nas not�cias do jornal.
A manh� parecia andar a passos de tartaruga. Olhou o rel�gio – dez horas – e resolveu ir at� o mini box da esquina comprar cigarro e, quem sabe, esquecer um pouco essas coisas que n�o saiam do pensamento.
– Joana! – chamou enquanto vestia uma bermuda branca e camiseta polo – Est� faltando alguma coisa na cozinha?
– T� n�o seu L�cio... S� refrigerante para o almo�o! – respondeu enquanto ouvia bater de panelas e o som arom�tico de fritura – E sua cerveja... S� tem tr�s latinhas. – barulho da porta da geladeira sendo fechada.
Saiu do apartamento sentindo um certo al�vio por fugir daquele clima impregnado de vol�pia e desejos, como se n�o bastasse o tes�o dolorido por Laura ainda tinha Joana se insinuando todas vezes que ficavam s�s no apartamento e, n�o poucas vezes, a flagrou desfilando quase nua pela casa. Para Marisa, nada anormal ter uma empregada adepta aos costumes dos patr�es.
– Deixa de besteira, querido! – repreendia brincalhona quando falou dos h�bitos dela – � uma negrinha bonita, n�o achas?
Achava! Claro que achava e era isso que incomodava, mas a candice de Marisa n�o lhe permitia imaginar – ou pensava que n�o – um envolvimento sexual com uma servi�al.
No cal�ad�o os costumeiros andantes me cumprimentaram e parou, v�rias vezes, para papear com um ou outro colega para jogar conversa fora e fazer o tempo correr.
– Hei! – olhou para tr�s – Cad� a doutora? – era Selma com S�mela.
Selma � uma antiga amiga dos tempos de escotismo e S�mela, uma loirinha mimosa, sua segunda filha, vestida em um pequeno mai� cavado que lhe contornava as curvas graciosas que chamava aten��o dos transeuntes que paravam para admirar a pequena deusa.
– �i, amada! – deu o costumeiro abra�o e beijoca nos l�bios carnudos da morena – Perneando para perder os pneuzinhos?
– Pneu? Aonde? – deu uma volta mostrando que o corpo ainda continuava quase o mesmo dos tempos do dezoit�o – Tu � quem precisa tirar essa barriga!
Riram e sa�ram, de m�os dadas, em dire��o à barraca de cocos. S�mela passou o bra�o em sua cintura e fez carinho eri�ando os p�los. J� n�o era a garotinha peralta que se jogava em seus bra�os quando se encontravam, para desespero do falecido pai que estranhava a alegria efusiva da filha com o amigo da m�e.
– E tu gatinha? Como v�o os estudos?
– Se melhorar estraga! – riu graciosa – Laura tamb�m est� quase passada... Cad� ela?
– Saiu cedo, parece que foi na casa da Andr�a...
– Sabe quem encontrei ontem no banco? – Selma interrompeu – O Edmundo, lembra dele? Ele perguntou por ti!
Pediu tr�s cocos e ficaram papeando alegres por quase uma hora at� que S�mela lembrou à m�e do almo�o na casa da tia.
– Vamos conosco? – convidou segurando sua m�o – Faz tempo que n�o te vejo, quero conversar contigo... – Selma ficou olhando a filha conversando – Queria que tu me ajudasse com F�sica, �nico galho do col�gio...
Prometeu que ligaria na segunda-feira combinando um dia para dar umas aulas. Se despediram e Selma voltou, na frente, deixando S�mela para traz.
– Como vai tia Marisa? – perguntou ajeitando o mai� que entrava na bunda.
Falou sobre a viajem e que ela ficaria fora por uns dez ou doze dias.
– E Laurinha? Ficou contigo?
– Claro! Por que?
– Nada n�o... Talvez eu pinte em teu ap amanh�! – se despediu e correu à cata da m�e que j� estava abrindo a porta do carro.
Ficou olhando a garota correr at� que entrou no corsa branco e acenaram. Virou e foi em busca do cigarro, das cervejas e do refrigerante.
Quando chegou em casa a mesa estava posta e n�o viu Joana – vai ver est� no quarto, pensou. Colocou as cervejas e os refrigerantes na geladeira e foi para o quarto tomar um banho gostoso para espantar o calor infernal. Saiu se enxugando e deitou na cama. O sil�ncio no apartamento era pesado, parecia que apenas ele orbitava naquela caverna, que ningu�m mais estava por l�. Sorriu com esse pensamento mordaz e saiu pra sala onde deitou no sof� envolto à toalha vermelha e fechou os olhos pensando em um passado remoto onde a �nica preocupa��o era ver e se divertir, deve ter pegado no sono – hoje tem certeza que sim.
– Pai! – sentiu o corpo ser balou�ado – N�o quer almo�ar?
Laura estava sentada na cadeira de vime na sacada apenas vestida em uma calcinha de pano branco.
– �i Filha... Faz tempo que chegou? – abriu os olho sonolentos e tentou dar um sorriso.
– N�o! Cheguei h� pouco... – respondeu sorrindo – Tu saiu pra onde?
Levantou e a toalha se abriu, apressou em esconder a nudez. Laura sorriu deliciada com os movimentos desajeitados.
– Tu �s mesmo muito besta... – segurou a toalha e puxou – Que tem eu ver a rola de meu pai? – riu e ele ficou constrangido – Olha! – puxou a calcinha fazendo as beiradas da boceta pularem pra fora – Ainda sinto tua l�ngua entrando gostoso...
Ele olhou para ela imaginando ainda estar sonhando, s� que diferente do meu sonho. Piscou limpando a vista e viu a vagina depilada e reluzente como se impregnada de �leo.
– Que � isso Laura? – jogou uma almofada que caiu no colo encobrindo seu sexo – A Joana ainda n�o saiu...
Tomou a toalha de sua m�o e voltou a encobrir-se.
– Porra pai! Ontem tu me fez gozar que nem uma cadela no cio e hoje tu vem com essa frescura? – ficou est�tico, n�o tinha sonhado, tinha lambido a xoxota da filha e gozara em sua boca – Que foi? Se arrependeu?
– Nunca! – apressou responder – Nunca...
Ela riu e puxou sua m�o.
– Vamos comer que estou morta de fome... – levantou e a seguiu – Sim! A Joana j� saiu.
Almo�aram calados, tomando cerveja. Laura, de vez em quando, olhava fixo e sorria faceira. Depois do almo�o foram para a sala e ela fez caf� novo.
– Encontrei a Selma... – falou entre um e outro gole de caf� – S�mela perguntou por ti.
– Ah! Ia esquecendo... – sentou-se no ch�o de pernas cruzadas – Tia Fernanda ligou hoje cedo, tua ainda dormia...
Fazia tempo que n�o via Fernanda, desde a ultima vez que estiveram em Recife nunca mais sequer falaram ao telefone. Ficou um clima n�o esclarecido em fun��o de coisas do passado, mas ele ainda tem apre�o por ela e por George, seu marido.
– Disse que est�o de malas prontas para virem nas f�rias... – recebeu a x�cara e ficou brincando pensativa – Parece que o tio dan�ou...
– Como assim?
– Eles n�o est�o mais juntos... – p�s a x�cara no ch�o – Tu andou mexendo no vespeiro, n�o andou? – olhou para ele com o semblante pensativo.
– Por que?
– Um treco que notei naquela ultima viagem... Acho que mam�e tamb�m ficou com o bichinho zunindo na cachola... – sorriu com um sorriso angelical de quem houvera descoberto um grande segredo – Ser� que o tio ficou sabendo de alguma coisa?
Recostou-se à poltrona, cruzou os bra�os detr�s da cabe�a e voou para longe, para mais distante ainda que naquela noite chuvosa recifana e ficou absorto aos pensamentos fugindo, por completo, de qualquer outro pensamento que, porventura, pudesse abater naquele instante.
– Tive um arranca rabo com Fernanda, sim... – quebrou o sil�ncio – Mas foi bem antes daquele dia...
Laura sorriu e balan�ou a cabe�a sorvendo a vit�ria sobre uma desconfian�a que n�o tinha tido coragem de dirimir.
– Mas tu deu pelo menos uma trepadinha com ela l�, n�o deu? – a voz saiu estranha, quase irreconhec�vel – N�o foi naquele dia que o tio levou eu e a mam�e em Olinda?
N�o! N�o foi no S�bado, foi na sexta-feira com todos em casa em uma loucura que ainda hoje arrepia os p�los.
– N�o!... Naquele dia eu tamb�m tive que sair, fui remarcar as passagens na ag�ncia de viajem. – olhou para ela e deu uma piscadela corroborando o segredo compartilhado – Por que tu queres saber? Ficas com ci�mes?
Ela ficou s�ria por um breve momento.
– Mam�e faz isso por mim... – levantou e foi para a cozinha com as duas x�caras vazias na m�o – N�o sei se devo Ter ci�mes de ti... Te gosto muito para desconfiar que me trais por sacanagem. – escutou �gua jorrando na cozinha, na certa estava lavando as lou�as do almo�o – E porque teria ci�mes se te tenho sempre?
Ficou, recostado, imaginando dos motivos que ela teria para sentir ci�mes. N�o era desses que traem por trair e se t�m, ou teve, seus casos extraconjugais, nunca se permitiu envolvimentos aqu�m do momento vivido e isso tem sido a t�nica que mant�m a harmonia em seu casamento. Marisa deve saber de muitos, n�o era t�o ing�nuo em pensar que consegue manter as apar�ncias sempre; muitas vezes chegou mesmo a conversar com ela sobre essa ou aquela escapulida.
– Como foi na casa da Andr�a? – perguntou enquanto tirava um cigarro da carteira e acendia – D. Edite estava l�?
– Precisava pegar um material para o trabalho de portugu�s. – respondeu – Tava, ela perguntou por ti!
Levantou e foi para a varanda onde uma rede amarela ficava sempre armada. As ondas do mar quebravam ruidosamente na areia alva e o sol abrasador espantara grande parte dos banhistas; as barracas, de palmas de baba�u, estavam apinhadas de gente vestida em trajes de banho e os gar�ons corriam, fren�ticos, equilibrando bandejas abarrotadas de garrafas, copos e, vez por outra, com pratos de caranguejo ou peixe frito. Deu uma �ltima baforada no cigarro e espremeu a bagana no cinzeiro de a�o reluzente estrategicamente colocado pr�ximo à rede. Espregui�ou gostoso e entrou fechando a persiana para barrar as lufadas de vento que n�o deixava o tapete, verde musgo, quieto.
– Tu vais sair hoje à tarde? – perguntou.
– S� se tu topares um cineminha! – respondeu.
N�o tinha planos para o dia e at� que n�o era m� pedida dar umas voltas no final da tarde. Entrou na cozinha, Laura continuava encostada à pia e esfregava uma ultima panela, o secador de pratos estava cheio. Se aproximou e lhe abra�ou por traz.
– Ui! – deu um gritinho de espanto, n�o esperava que lhe abra�asse.
– Que foi? – sorriu e beijou a cabe�a perfumada – Tava viajando?
Acariciou a barriga sob o camis�o �mido e percebeu que ela estremeceu. Ele tamb�m n�o conseguiu conter a ere��o sob a toalha vermelha sabendo que Laura estava sem calcinha.
– N�o! S� n�o escutei tu chegando... – parou respirando forte de olhos fechados – Como �? Tu me levas no cinema?
– Levo... Levo sim! – apertou o abra�o para que ela sentisse como estava – Fa�o qualquer coisa por ti, princesinha...
Laura arrebitou a bunda pressionando o cacete, ficando encaixada a ele.
– Parece um ferro quente! – riu e fechou a torneira – Sabe pai... Gozei tanto ontem que pensei que ia desmaiar... Hoje, quando acordei de teu lado, fiquei imaginando se n�o tinha sido um sonho, um sonho gostoso que povoa meu sono h� muito tempo, mas tua gala, que escorreu de minha boca, ressequida no queixo, era a certeza de que t�nhamos realmente ficado...
– Fiquei com medo de ter for�ado a barra... – sussurrou a seu ouvido – Te ter maculado! – passeou a m�o pelo corpo encoberto e levantou a camisa para poder tocar a bocetinha depilada – Mas acho que n�o devemos continuar com essa loucura, por mais que te deseje.
Ela virou e encarou s�ria.
– N�o! Nunca! – abra�ou forte e se beijaram – Te quero todo... Te quero muito...
Loucura! Loucura! Reverberava na mente. Por mais que desejasse t�-la mulher, n�o tinha como esquec�-la filha e essa barreira, apesar de f�cil transposi��o, ainda era algo que n�o conseguia colocar para escanteio e mesmo em seus mais bestiais desejos, tentava refrear o m�ximo para n�o ter que arrepender no futuro. Mas era t�o f�cil esquecer o desejo e o tes�o para me ater àquela regra, incompreens�vel, de que pai n�o pode ter a filha.
– Deixa eu tomar um banho... – empurrou o t�rax e saiu, andando rebolante, para o banheiro.