Di�rio de um gatinho inocente – 5
Algumas vezes nos sentimos mexidos por algumas pessoas por algum motivo ainda inexplic�vel. Um sorriso, uma palavra acompanhada de um olhar um pouco mais insinuante pode ser tudo o que o amor e a paix�o precisam. Como qualquer homem, eu tenho desejos e realizo vontades. Essa � a diferen�a que separa o feliz do infeliz. A coragem de realizar. Nem todos concordam ou s�o corajosos o suficiente at� para dizer adeus. E onde fica a felicidade? Poderia dizer que n�o sei, mas prefiro dizer que n�o me interessa.
Certa tarde, enquanto conversava com L�cio, descobri seu olhar. Somos amigos h� algum tempo. Devido às nossas vidas bastante corridas, n�o costum�vamos nos encontrar com frequ�ncia. Mas cada esbarr�o pelo meio da rua passou a ser a melodia mais agrad�vel j� escutada por qualquer um. L�cio faz o tipo inteligente escondido por uma carapa�a musculosa, de um cara que se preocupa com o corpo, que pretende ser vaidoso. Que � grosso e hostil com a delicadeza das pessoas. Que sorri pelo canto da boca demonstrando um sarcasmo constante. Seus dentes s�o brancos, bonitos, no tamanho ideal. Seus l�bios levemente corados e umedecidos sempre por um mania incontrol�vel que ele tem de morde-los. Seu olhar � sexy na real concep��o da palavra. Ele tem 23 anos, mas parece mais velho sem perder seu charme infantil. Ele tem dedos longos, m�os firmes. Cada aperto de m�o era como deitar na areia da praia no final da tarde. Ele � quase um sonho. Bonito, inteligente, forte. Um paradoxo. D� valor ao corpo mas n�o se cansa de se expressar da maneira mais clara e correta ao falar. Ele gesticula como poucos o que quer realmente dizer, e sem saber, acaba tornando-se um mist�rio. Seu corpo fala pouco. Mas � proposital. Eu me dei conta tarde demais... Mas n�o t�o tarde que n�o pudesse voltar atr�s.
- E a�, Lucas, como voc� est�, meu rapaz?
- Eu vou bem, cara. E voc�, como tem passado? Estudando e trabalhando muito?
- S� o suficiente para me deixar cansado e sem tempo para fazer as coisas que eu gostaria de fazer.
- Como por exemplo?
- Sair com amigos, curtir as baladas, pegar umas gatinhas agora que estou solteiro. Encher os cornos de qualquer coisa et�lica!
Era fatal ter de v�-lo sorrir. E foi a� que eu percebi seu olhar. Ele sorriu e me estudou levemente, sem que eu notasse, ou melhor, ele n�o percebeu que eu vi a maneira com a qual ele me olhou. Foi muito diferente do habitual. Eu me senti inseguro. Era estranho. N�o podia ser verdade. Em nenhum momento eu idealizaria aquilo. N�o sou do tipo que fica sonhando com um cara. Eu passo por eles e nem os noto. Mas quando um deles fala com meu mundo particular... Tudo muda. Um calafrio e um suspiro. L�cio respirou fundo.
- Mas e a�, qual � a boa do final de semana?
- Nenhuma. Nenhuma mesmo. Na verdade voc� sabe que n�o sou muito de sair... – ele me interrompeu.
- Voc� ainda n�o sabe o que � bom, rapaz! Mas, de qualquer forma – colocou sua m�o no meu ombro – eu quero chamar o pessoal l� em casa pra vermos uns filmes bacanas, topa?
- Ah, at� poderia ir, s� que...
- Ah, porra, j� vai come�ar a viadagem! Vai ou n�o vai, cara? N�o to te chamando pra ir pra forca, cacete, � pra ver filme l� em casa com a galera. Tu vai pra l� amanh� e volta pra casa no s�bado.
Est�vamos em uma quinta-feira e eu realmente n�o tinha nada programado. Na verdade o convite veio bem na hora. Aquela semana tinha sido muito entediante.
- Hum, ta bem. Mas quem vai?
- Ah, o pessoal de sempre.
Ele referia-se aos nossos amigos em comum, que eram tr�s. Eu senti que ele queria mesmo que eu fosse. Ent�o resolvi que sem nada melhor pra fazer, e uma d�vida pra resolver, era a melhor coisa que eu poderia fazer.
O dia custou a terminar. Estaria enganado? N�o podia ser poss�vel. Eu costumo ver bem dentro das pessoas e nunca tinha notado nada diferente no olhar do L�cio. Talvez ele tenha alguma capacidade que eu desconhe�o. A capacidade de me enganar! E logo quem? Lucas, o senhor sensualidade! At� parece que eu era assim t�o infal�vel que n�o fosse pass�vel de erros. Bem, prefiro crer que eu estou completamente enganado a duvidar dele.
E l� �amos n�s. Sexta-feira. Um dia perfeito para que mudan�as ocorram em nossas vidas sem que nem ao menos n�s percebamos. � um dia que para muitos indica o fim de um ciclo cansativo de trabalho. Para L�cio era o mesmo. Ele se diverte às sextas-feiras. Queria o mesmo. Chamou amigos para ver filmes, muito provavelmente para beber, dormir l�, o de sempre. Eu n�o deveria imaginar nada de mais. Arrumava minha mochila e pensava at� em que pe�as de roupas levar. Estava ansioso, n�o sabia o que esperar. Ent�o decidi pelo simples. Roupas comuns, com as quais eu me sinto bem. Uma camisa grande pra dormir, cuecas para trocar ap�s tomar banho, short pra ficar à vontade. Pe�as normais de roupa para uma sexta-feira normal entre amigos.
Chegou o momento e eu n�o esperei at� a hora marcada, n�o gosto de atrasos. Fatalmente cheguei mais cedo que o esperado, antes de todos. Interfone:
- Oi, L�cio. � o Lucas.
- Ah, fala tu! Sobe.
Ele praticamente ordenou, como sempre faz, grossamente. Chego a me irritar algumas vezes. Hoje n�o mais. N�o passa de um gesto comum, engra�ado at�. No elevador s� mais um pouco de ansiedade at� que cheguei à sua porta. Ao abrir notei aquele corpo depilado, forte, viril. Ele realmente � bonito. Um monumento à tentativa de perfei��o. Sim, tentativa, porque perfei��o � apenas um ideal... Creio que moment�neo. Logo, seria correto dizer que ele estava perfeito? Risos, n�o sei, quem sabe.
- Fala, grande mestre! – Me recebeu com um aperto de m�os e um sorriso.
- Diz a� cara. Cheguei muito cedo?
- Como sempre! Mas � normal vindo de voc�.
- Qual �?! Vai me esculachar agora?! Eu mal cheguei, p�!
- Ih, to zoando rapaz. � que voc� � muito certinho com essas paradas de hor�rio, sempre pontual. O que � �timo, mas em compara��o com os meros mortais, ruim.
- E voc�, filosofando como sempre! – Eu ria, como sempre achei engra�ado ele filosofar. Com o visual que ele possui, deveria ser um homem bonito e burro, mais nada.
- Voc� sempre me subestimando.
Nessa hora eu me toquei. Ele tinha dito algo um pouco suspeito, como se soubesse o que eu estava pensando sobre ele. Ser� que L�cio me conhecia mais que eu mesmo supunha? Era poss�vel. N�o �ramos t�o presentes nem chegados ao extremo um ao outro, mas por mera quest�o geogr�fica. Ele morava n�o t�o perto de minha casa. Intrigado, comecei a reparar. Ser� que conseguiria l�-lo afinal? Chegamos em seu quarto.
- Fica a vontade a�. Se quiser deitar e dormir enquanto a cambada n�o chega, fique a vontade.
- N�o, to tranquilo. E que filme vamos ver ent�o?
- Que tal um desses? – Ele ent�o me mostra uma pilha de filmes porn�s que costuma comprar. Ainda rindo, disse – � s� escolher!
Eu sorri tamb�m.
- Ah, deixa-me ver... Esse aqui ent�o. – Peguei um filme que nem lembro direito. Tinha uma mulher muito gostosa na capa. Ela chupava um cara forte e bem dotado. Achei interessante.
- Hum, gosta de um dotad�o n�?! – Brincou L�cio como sempre, sem perder piadas. Eu que n�o sou bobo nem nada, respondi r�pido.
- �, mas quem comprou filme de dotad�o n�o fui eu, n�! A queda � sua! huahuahuahua
- Certo, me pegou nessa.
Nos divertimos bastante e confesso que o papo me excitou um bocado. Da� L�cio disse que precisava ir ao banheiro, mas que eu ficasse livre para ir à cozinha se quisesse e tudo mais. Sentei em sua cama e dela, podia ver a porta de seu banheiro atrav�s da porta de seu quarto. Ele se dirigiu para l� e n�o fechou a porta. Adivinha s�? Porta aberta com L�cio mijando. Era o que eu estava esperando. Mas ao desabotoar sua bermuda, ele deu uma tapa na porta do banheiro com sua m�o, de costas mesmo, ela fechou. Uma pena.
Os garotos n�o demoraram tanto. Chegaram e para n�o perdermos tanto tempo, fomos logo pondo os filmes e as Ices para gelar junto da Vodka. A tarde-noite prometia. Os filmes eram filmes normais, na verdade cinco. Dois document�rios e tr�s superlan�amentos da ocasi�o. Os filmes foram rapidamente vistos e nem tanto absorvidos devido à bebida e o papo gratuito. N�o demorou muito at� que todos ficassem levemente b�bados. L�cio ficou muito alterado. Ficou mais carinhoso. Se soltou. Ele nos abra�ava. Olhava com calor sabe. Fazia quest�o de nos tocar à todos, e era uma sensa��o boa. Seu toque � reconfortante. Logo todos precisavam dormir. L�cio disse que pod�amos nos dividir entre os dois quartos, o dele e de seu irm�o, que estava viajando. Ele disse que tr�s poderiam ficar no quarto do irm�o dele ocupando a cama e dois colchonetes no ch�o, o quarto era maior, e outro dormiria no quarto dele, junto dele. Um de nossos amigos se manifestou dizendo que seria por ordem de chamada, logo eu seria o azarado a ter de aturar o ronco de L�cio. Disse que por mim tudo bem, tava tranquilo.
Entramos em seu quarto e ele foi logo dizendo que poderia dormir na cama dele se quisesse. Eu falei que n�o, que eu n�o era visita, era de casa e que dormiria no ch�o mesmo, sem problemas. Mas ele foi pegando o colch�o debaixo da cama dele e deitando dizendo que era uma ordem. Acatei.
- E ent�o Lucas, agora que estamos n�s dois s� podemos ver aquele filme n�?
- U�, L�cio, se voc� quer ver, n�o me importo n�o.
Bem, ele estava b�bado, podia dar um desconto. Foi ent�o que ele apenas apertou o play. O filme estava dentro do aparelho de dvd. Ele premeditou tudo ent�o. Estava consciente, claro. Mas por qu�? Com que intuito? Era isso que eu estava disposto a descobrir.
- Cara que filme foda! Olha s� o que o cara faz com ela!
A cena era forte. Um cara roludo mesmo metendo sem d� na bunda de uma loira�a muito gostosa. Mas outra cena ainda melhor estava rolando. L�cio mexendo em seu pau que ainda estava mole, mas j� apresentava sinais de poss�vel excita��o. S� que do nada ele disse que precisava ir ao banheiro mijar. Por mim, tudo bem, era mais curiosidade que qualquer coisa mesmo. Ele tentou levantar e quase caiu de cabe�a na estante dele.
- Cara, cuidado. – Falei sem pestanejar.
- Tudo bem, eu vou ficar bem. N�o machucou n�o.
- Que isso cara, eu te ajudo, vem c�.
Ele estava muito torto. Ao chegar no banheiro ele vomitou muito e se mijou. Achei definitivamente ruim. S� est�vamos n�s em casa. Cinco moleques irrespons�veis que decidiram beber at� cair. Mas eu estava bem comparado aos demais. E s� n�s est�vamos acordados, logo, eu tinha de ajuda-lo. Com dificuldade tirei sua roupa e o coloquei no chuveiro. Neste momento, v�-lo nu n�o teve o mesmo efeito que eu imaginara anteriormente. Eu tinha pena dele, queria cuidar do meu amigo e n�o saber se ele estava interessado em mim. Ajudei-lhe com o banho e logo ele despertou um pouco. Entreguei-lhe a toalha e ele agradeceu, disse que ia preparar um caf� pra ele enquanto ele se enxugava.
Quando voltei da cozinha para seu quarto, ele estava sentado na beira da cama ainda de toalha com as m�os no rosto. Ao me ver ele sorriu e disse:
- Que papel�o hein cara. Desculpe por tudo e poxa, obrigado. Voc� � um amig�o mesmo.
- Que nada L�cio. Voc� faria o mesmo por mim. Toma aqui antes que esfrie. E seria bom voc� tomar �gua. Quer que eu pegue pra voc�?
- Lucas... Me ajuda aqui. Pega uma cueca pra mim, minha cabe�a est� rodando.
- Ta, onde que est�?
- Nessa gaveta a�.
Agora eu estava mais interessado. Aquele homem ali na minha frente, fr�gil daquele jeito. Mexeu comigo sem d�vida.
- N�o quer que eu vista voc� tamb�m n�o n�? – Ri, � claro.
- Poxa, acho que consigo sozinho, mas se eu n�o conseguir voc� me ajuda?
Ele foi t�o natural e sincero em suas palavras que eu n�o tive como negar e disse logo em seguida que sim. Ele riu e pegou a cueca da minha m�o com dificuldade. O filho da m�e tava zoando com minha cara de novo, era isso? Fiquei confuso.
- Bem, eu vou me trocar no banheiro.
- N�o, pode se trocar aqui mesmo, n�o tem problema. Liga o ar e fecha a porta.
- Eu vou ao banheiro sim pra escovar os dentes e aproveito pra pegar tua �gua.
- Ok. Eu j� escovei os meus, ta papai?
- Palha�o. Mas fez bem, filho!
Fui ao banheiro, troquei de roupa. Coloquei minha camisa grande, meu short de dormir. Escovei os dentes e fui buscar a �gua dele. Quando voltei pensei que ele j� estivesse dormindo, mas n�o estava.
- Tranca a porta, Lucas. Por favor. N�o gosto de dormir com a porta destrancada.
- Tudo bem. Toma aqui tua �gua.
Ele estava na cama, deitado, somente de cueca. Fui at� ele levar o copo d�gua, logo que tranquei a porta. Achei o fato da porta estar trancada excitante. Mas tentei n�o pensar nisso.
- Cara, voc� foi excelente hoje, Lucas. Nunca pensei que voc� fosse t�o parceiro assim.
- P�, L�cio. Fala s�rio. � o m�nimo que eu posso fazer, relaxa.
- S�rio. Nem nunca pensei que voc� ficasse t�o gatinho com essa camisa grande assim. Fica parecendo uma menininha de filme que usa a roupa do namorado depois de dar bastante! – Ele riu e me despertou um tes�o moment�neo, � claro. Mas levei na brincadeira.
- Ah ta! Vai tomar banho, n�o sou eu que fico comprando filme porn� de dotad�o n�o hein!
Quando dei as costas pra me dirigir at� minha mochila ele pegou na minha m�o me fazendo virar.
- O que foi?
Me puxando de encontro a ele, ele me beijou. Beijou com vontade.
- Desculpa cara. Mas fica aqui comigo, s� por essa noite.
- L�cio... Que isso cara?
- Lucas, pra cima de mim n�o. Eu conhe�o teu olhar. Sei que voc� tamb�m ta afim. Fica aqui comigo, do meu lado.
Ele colocou sua m�o na cama, onde queria que eu estivesse. Ele me pegou de surpresa sim. Mas foi a melhor surpresa do dia.
Continua...
(Se voc� gostou deste conto, escr�va-me, e mande sua opini�o - [email protected])