Dormi feito um anjo naquela noite. Eita sensa��o boa. Me lembro at� hoje a leveza que aquilo me trouxe. Mas tamb�m me trouxe mais vontade. Eu queria mais... tinha certeza que a gente podia fazer mais coisas, e que ele queria, mas parecia meio culpado.
Eu n�o me senti dessa forma porque n�o tinha consci�ncia das coisas. Era puro, inocente. As pessoas acham que � errado esse tipo de envolvimento. Mas o que h� de mal sen�o a censura das pessoas, que em sua maioria, tem vontade de fazer as mesmas coisas?
Na manh� seguinte acordei tarde. O dia estava escuro e chovia bastante. Dia perdido, eu pensei. Tinha pensado em ir pra piscina, chamar meu tio, conversar. Tomei caf� sozinho e me dei conta que ele n�o estava em casa. Minha tia disse que ele tinha ido at� a casa dos irm�os ga�chos, que ficava quase ao lado. Me incentivou a ir l�.
- Tem mesa de ping-pong l�, Felipe.
- Mas onde �?
- Na terceira cada, antes da esquina. Uma casa azul com port�o branco.
Troquei de roupa e fiquei pensando se ia ou n�o. Resolvi que sim. Quem sabe a gente n�o poderia ficar sozinho na casa deles? L� fui eu. Toquei a campainha.
- � guri, tudo bem?
- Tudo.
- Quem �, Lula?
- � o guri, sobrinho do Nelio.
- Felipe.
- Felipe... entra Felipe.
- Meu tio t� a�?
- Teu tio? N�o, guri... t� n�o.
- Ah t�...
- Entra a�... ele disse que vinha pra c�?
- Minha tia falou que ele veio pra c�...
- Ele deve ter passado no Valdir antes. A gente viu ele sair de carro...
- Ah...
- Entra... sai da chuva guri.
Acabei entrando pra esperar meu tio. Fiquei meio sem gra�a, mas tava de olho na mesa de ping-pong! Tinha esquecido de sexo quando sentei no sof� e vi o Zequinha, irm�o do Lula, vir falar comigo, s� de cueca.
- �, guri, tudo certo?
- Tudo bem.
- T� procurando teu tio? Logo logo ele t� a�.
Zequinha estava de cueca. S� de cueca. Era branca, com listras verticais azuis ou pretas, n�o lembro muito bem. Barbudo, cabelo branco, corpo liso e bem branquinho. Olhos azuis, bem azuis. Me senti vigiado, mas n�o era ele. Era o Lula.
Passava um jogo na TV a cabo, campeonato alem�o. Zequinha voltou pra cozinha, estava fazendo alguma coisa pro almo�o. Lula sentou do meu lado, meio impaciente.
- Voc� se importa se eu tirar a bermuda?
- N�o, n�o...
- S� botei o short pra atender a porta...
- Ah, tudo bem.
Fiquei mais sem gra�a ainda, mas tudo bem, j� estava come�ando a aprender a admirar os homens do jeito que eles merecem e
gostam, e que geralmente as mulheres n�o fazem. Admirar com tes�o, com um olhar verdadeiramente sacana. Admirar com gana.
Lula estava de cueca de lycra azul clara. Parecia seda, brilhava. Na hora que tirou o short eu olhei bem. Dava pra ver que era bem dotado. Aquele coroa de sobrancelha grossa, cabelo grisalho, bigode enorme... tinha guardado um grande conte�do dentro da cueca. Era bem recheada, dava pra ver o contorno do pau. Fiquei nervoso... passei a olhar s� pra tela da TV.
Cad� meu tio, cad� meu tio? Eu ali, 1 dia depois de experimentar a maravilha que � chupar um cacete, com 2 coroas de cueca, sozinho... comecei a olhar para o nada... para o enfeite da mesa, para o chinelo do Lula no ch�o... passava o olhar pela cueca dele, sendo co�ada... voltava a olhar a parede... e foi ent�o que dei de cara com um bras�o. Parecia um bras�o de futebol, mas desconhecido.
- Seu Lula...
- Hein?
- Pra que time o senhor torce?
- Colorado.
- E o seu irm�o?
- Zequinha tamb�m.
- Ah... achei que fosse outro time.
- Gr�mio? Bah... t� doido?
- N�o... � que vi aquele escudo ali, pendurado na parede...
- Qual?
- Aquele ali �.
Levantei e apontei pra ele ver do que eu estava falando. Foi quando li o nome do time: P.C.P.B.
- Ah... isso � que...
- N�o, n�o... esse escudo � do... clube que temos.
- Clube?
- �... na verdade s�o os amigos que jogam futebol com a gente... � isso.
- Ah t�... mas o que quer dizer isso?
Ele gaguejou e foi salvo pela entrada do Zequinha, de avental, estranhando a minha proximidade do escudo.
- Que foi Lula?
- O Felipe... ele quer saber o que significa.
- O nome do clube de carteado?
- U�? N�o era futebol?
- N�o...
- �...
As respostas se cruzaram e n�o me convenceram. O que era exatamente aquilo? Um partido? Uma seita? Por que tanto mist�rio? A campainha tocou novamente. Lula botou o short de volta e correu pra porta, deixando Zequinha na enrascada. Ele olhou pra mim meio sem jeito e desconversou:
- Deve ser teu tio. V� l�.
Voltou pra cozinha. Ele tinha raz�o, era mesmo Tio Nelio.
- � Felipe, voc� est� aqui?
- T�... a tia disse pra eu vir pra c�.
- Ah...
Ele ficou sem gra�a. Tentou esconder o pacote que carregava na m�o. Era uma sacola de farm�cia. Ele entregou pro Lula, que foi pro quarto.
- Tio, o que � P.C.P.B.?
- Hein?
- Tem alguma coisa a ver com aquilo que a gente fez ontem?
- Menino...
- Conta tio...
- Depois a gente conversa sobre isso.
- N�o pode me contar?
- Voc� � muito novinho pra isso...
- Pra qu�?
- Lula! Que jogo � esse?
Meu tio levantou e foi at� o quarto. Fiquei ali, com meus pensamentos, com minhas d�vidas... aquilo n�o estava me cheirando bem. Mas a comida... hummmmm
- Quer almo�ar aqui Felipe?
- Quero.
- Ent�o liga e avisa a tua m�e.
O almo�o estava mesmo delicioso, mas era no m�nimo diferente me sentar pra almocar com dois coroas de cueca e um terceiro que eu tinha chupado o pau um dia antes. Ainda por cima meu tio. Enfim... estava delicioso. E silencioso.
- Teu tio contou o que voc�s fizeram ontem.
Meu tio olhou, branco, pro Zequinha.
- Voc� tem quantos anos guri?
- 14... quase 15.
- Tem namorada?
- N�o.
- Nunca teve?
- N�o.
- E gostou?
- Do que?
- Do que voc�s fizeram.
- Gostei.
- Hum... quer mais?
Olhei pro meu tio sem entender nada. Onde ele estava com a cabe�a? Tinha contado pros amigos? Eu ainda n�o tinha percebido que a rela��o deles era bem maior que amizade.
- Deixa ele Zequinha... t� muito novinho ainda.
- Que isso Nelio. Com 19 anos eu j� tinha feito tanta coisa...
- Mas o Felipe � diferente.
- N�o tio, eu gostei.
- Viu s�...
- Eu n�o devia ter contado pra voc�s...
- Calma Nelio...
Meu tio deu o �ltimo gole na ta�a de vinho, levantou e me chamou pra ir embora.
- Espera a� Nelio.
Lula levantou e agarrou meio tio pelos ombros. Ele resistiu um pouco, mas n�o muito. Fiquei assustado. N�o tinham tocado direito na comida... era certo que aquela hist�ria de P.C.P.B. tinha a ver com o clima estranho. Me senti meio culpado. N�o devia ter ido pra l�...
Zequinha pegou minha m�o e pediu calma. Levantou e disse pro Lula levar meu tio l� pra dentro. Acabaram indo... meu tio muito nervoso.
N�o sei o que conversaram, mas logo Lula voltou dizendo que meu tio queria conversar comigo.
Compicado? Demais... ainda mais pra minha cabe�a, que na �poca n�o entendi nada vezes nada da vida. Eu s� queria experimentar aquela sensa��o de novo, e acho que a minha inoc�ncia assustava um pouco o meu tio. O tes�o dele era evidente, mas parecia se sentir um pouco culpado por isso.
- Felipe... senta aqui.
- Tio, eu...
- Olha, desculpa eu te meter nessa confus�o. Voc� n�o tem idade pra isso e...
- Tio, eu quero.
- Como assim?
- Eu n�o sei explicar, mas gostei. Quero de novo.
- O que?
- Aquilo. Aquilo que fizemos ontem.
- Tem certeza?
- Tenho. Eu quero mais.
- Olha garoto... sua m�e...
- Tio, minha m�e nem conversa comigo. Ela nunca vai saber. Se depender de mim...
- Voc� � muito novo pra isso... ai meu Deus.
- Eles gostam?
- Quem?
- Seus amigos. O Lula e o Zequinha.
- �...
- Gostei deles. A gente pode fazer juntos?
Meu tio olhou pra mim com a cara mais assustada do mundo, mas logo ficou t�o excitado quanto eu. Era tudo o que ele queria.
- O Zequinha gostou muito de voc�...
- Ent�o...
- Vamos fazer o seguinte... eu chamo ele aqui e voc�s conversam. Quer?
- E o sr?
- N�o quer conversar com ele?
- Quero... mas e o senhor?
- Vou chamar.
Meu tio me deixou sozinho com meus pensamentos e meu short j� estufado. Se as �ltimas f�rias tinham sido chatas e entediantes, estas com certezas n�o �am mais sair da mem�ria. Eu estava me descobrindo.
Zequinha entrou, sorrindo, aquela cueca branca j� apontando pra mim.
(CONTINUA...)