Ser adolescente n�o � f�cil, e escola � uma odiss�ia onde cada dia tem quem ser sobrevivido. Agora some a isso ser gay, isso torna o fato de ser adolescente insuport�vel.
Chamo-me Julian tenho 19 anos e estou no 3ª ano do ensino m�dio. Troquei de escola esse ano, est� sendo dif�cil se voc�s querem saber, mas vou sobreviver a mais isso.
Meus pais s�o separados, minha m�e � m�dica ginecologista e meu pai � gerente financeiro de uma metal�rgica, eu moro com ele. E essa e mais uma complica��o na minha vida, voc�s j� imaginaram acordar de manh� e dar de cara com uma mulher estranha na cozinha? Pois �, isso acontece comigo quase todos os domingos, mas prefiro aturaras conquistas do meu pai, a aturar o marido chato e convencido da minha m�e.
Como disse antes, eu troquei de escola e foi ai que come�aram os problemas para mim. Para come�ar me separei do meu melhor amigo, o Kau�, depois conheci o Pedro, que � o garoto de quem eu gosto desde o come�o do ano letivo.
S� que para voc�s entender isso, vou ter que contar a minha hist�ria, ent�o ai vai:
Eu sempre soube da minha homossexualidade, acho estranhas as pessoas que dizem que descobriram aos 13, 19 ou 19 porque eu sempre soube, e acho que quem � gay sabe, pode n�o aceitar, mas sabe que �. Enfim, minha primeira rela��o aconteceu nos meus 19 anos, com o Kau�, sim ele foi o meu primeiro, e foi muito diferente do que eu leio nesses contos onde dizem que sentem um prazer absurdo e sentem algo quente l� dentro. Eu n�o senti nada disso, senti foi muita dor, quase morri de dor, mas muita dor mesmo, tanto que nunca mais transei com o Kau�, hoje somos apenas amigos.
No fim do ano passado minha m�e resolveu ir morar com o ent�o namorado dela, eu resolvi n�o ir, ela chorou, implorou, disse que se eu n�o fosse ela n�o iria. � claro que minha vontade era dizer “n�o vai ent�o e eu fico”, mas eu n�o poderia fazer isso ele � um idiota completo, mas ele ama ela, e ela ama ele.
Ent�o eu vim morar com meu pai, disse para a minha m�e que seria bom eu passar um tempo com ele, apesar de ter minhas duvidas se ele pensava da mesma forma. Ele me recebeu mesmo assim, e para ser sincero, hoje acho que ele, do jeito dele, gosta de eu estar aqui. Meu pai � o estere�tipo do homem heterossexual, desorganizado, o que sabe de tudo, o mach�o que pega todas as mulheres.
Comecei a estudar na escola do bairro onde meu pai mora. Como sempre trocar de escola � uma droga. No meu primeiro dia eu queria morrer, mas foi ai que conheci o Pedro. Eu estava sentado em um banco, durante a hora do recreio, sozinho e entediado torcendo para chegar a hora de ir para casa.
Havia crian�as menores correndo e brincando e os maiores estavam jogando bola, o Pedro era um deles, as meninas conversavam em um canto, ou fingiam que conversavam, pois na verdade acho que estavam de olho nos garotos jogando bola, e eu estava l�, com aquela cara de taxo sem saber para onde ir, nem o que ou com quem falar. Quando de repente levo uma bolada em cheio na cara e um mar de sangue come�a a jorrar do meu nariz, eu tento estancar o sangue com a m�o, mas n�o consigo, nisso vem o Pedro pedindo desculpas, com uma cara de desesperado. Pegou a minha cabe�a e ergue e estancou o meu nariz com sua camiseta, eu sabia que n�o era correto erguer a cabe�a, pois minha m�e � m�dica e uma vez ela me disse que o correto no caso de hemorragia nasal � apertar as narinas com os dedos polegar e indicador em forma de pin�a. Nessa hora tinha umas 30 pessoas a minha volta, a inspetora veio e levou n�s para a sala do diretor, eu afastei a m�o do Pedro e fiz o que tinha aprendido com minha m�e e logo o sangramento diminuiu e parou de vez.
Est�vamos Pedro e eu na sala do diretor, ele me olhou e perguntou se eu estava bem, se estava sentindo alguma dor, eu disse que estava bem, que n�o sentia nada demais. Ent�o ele olhou para o Pedro e disse que ele j� havia falado que n�o era permitido jogar bola no recreio, pois poderia acontecer justamente o que aconteceu comigo, Pedro com a cabe�a baixa pediu desculpas, mas mesmo assim o diretor o p�s de castigo depois da aula, e eu me senti culpado, mesmo n�o tendo culpa nenhuma.
No outro dia fui caminhando para a escola, pois meu pai estava atrasado para o trabalho n�o pode me levar, ent�o resolvi guardar o dinheiro do taxi que ele havia me dado e ir andando. Estava pensando no que havia acontecido no dia anterior, pensava como o Pedro foi gentil, como o rosto de preocupado dele era lindo e como teria sido o castigo.
Quando cheguei à escola vi que ele estava parado no port�o, ele me encarou e eu desviei o olhar e passei sem dizer nada, ele me chamou e pediu desculpas, na verdade ele disse “ai cara, foi mal por ontem”, eu simplesmente fiz um sinal afirmativo com a cabe�a e dei um “sorriso de Mona Lisa” e continuei o meu caminho.
O segundo dia j� foi melhor, por causa da bolada que eu levei muitas pessoas vieram falar comigo, me perguntaram coisas e eu respondi e assim come�ou o meu novo circulo de amizades na nova escola.
Durante o recreio me afastei um pouco dos interrogat�rios, queria ficar um pouco s�, isso era algo bem caracter�stico de mim, o Kau� sempre diz que eu sou anti-social, n�o sei, talvez eu seja mesmo. Enquanto eu estava l� no meu t�o esperado momento de solid�o o Pedro chega sorrindo de forma desajeitada, me ofereceu um pouco de refrigerante que estava tomando, eu recusei dizendo que n�o tomava refrigerante, o que � uma verdade, nunca gostei. Ele me pergunta como estava o meu nariz, ele disse que na hora pensou que tinha at� quebrado, eu disse que j� estava tudo bem, me levantei e disse que tinha que ir, nisso o sinal do retorno as salas de aula soou e eu segui para dentro.
O Pedro havia me desconsertado, eu n�o sabia como falar com ele, tinha medo de deixar transparecer o sentimento que come�ava a crescer dentro de mim por ele, algo t�o forte que sentia meu cora��o bater na garganta quando ele estava perto de mim, o jeito dele me encantava, ele n�o � lindo de morrer, n�o faz o g�nero modelo, mas estava longe de ser feio, tem 1.75de altura eu creio, uns 6cm a mais que eu, e os olhos da mesma cor que os meus, castanhos. Acho que isso � a �nica coisa que temos em comum, ele tem a pele bronzeada de quem joga futebol, a minha � branca como leite, os cabelos dele s�o cacheados em um tom de castanho claro, os meus s�o liso e castanho escuro, ele tem um jeito expansivo e alegre, eu sou discreto e retra�do, ele adora esportes, eu prefiro ler e navegar na rede, ele tem o rosto receptivo, iluminado e divertido que fica ainda mais bonito quando ele sorri e mexe em seus cachos, o meu sempre com um aspecto de triste mesmo quando estou feliz, e com leves olheiras que d�o um tom sombrio ao meu rosto. Mas o que eu n�o sabia � que t�nhamos mais uma caracter�stica em comum, ou quase isso.
Na sa�da, para o meu espanto, l� estava ele no port�o, parado. Perguntou-me se poder�amos ir juntos, pois o meu trajeto era o mesmo que o dele at� certo ponto, fiz um sinal afirmativo com a cabe�a e seguimos lado a lado.
Um sil�ncio constrangedor dominou os primeiros 20 minutos de caminhada, ent�o do nada ele me pergunta a idade, com quem moro e se tinha namorada, respondi a todas de forma breve. Ent�o me pergunta o que estou achando da escola, e assim foi nossa conversa, ele perguntando e eu respondendo at� chegar ao ponto de nos separarmos. Ele me convida para ir a casa dele, eu fiquei assim, pois imaginei o que isso significaria. Ent�o ele me olhou e disse “eu n�o mordo n�o cara, e n�o vai ter bola l�, [risos]”. Ent�o fui.
Uma casa bonita a dele, nada de muito luxo, normal, mas muito bonita. Ele morava com os pais, ambos estavam trabalhando. Me ofereceu �gua, tomei, me ofereceu algo para comer, recusei. Ele era um garoto legal, sabia conversar, tinha algo a acrescentar, ao contr�rio de muitos por ai.
Conversamos, conversamos e conversamos, at� chegar o pai dele, ele me apresentou como um colega de escola, e pai me cumprimentou de forma cordial. Eu resolvi ir para casa, disse que estava na minha hora, est�vamos na sala e seu pai no banho, ele me disse que adorou a visita e disse que gostaria muito se repetisse. Eu fui para casa pisando nas nuvens de tanta felicidade.
Assim os dias se passaram, e eu e o Pedro nos tornamos amigos, ele j� havia ido a minha casa, est�vamos nos conhecendo. Num desses dias l� em casa, ele come�ou com uma conversa que eu achei que nunca iria acontecer, ele me perguntou se eu era virgem. E fingi n�o ouvir, ele insistiu, balancei a cabe�a de forma negativa. Ele me perguntou se j� havia transado com garotas, eu corei e n�o respondi nada, e ele riu e disse que sabia a resposta. Nessa hora eu gelei, pensei que ele iria me humilhar, pensei que iria me despreza. Ao inv�s disso ele sentou ao meu lado e disse que ele j� havia transado com mulheres, e com um cara. Eu n�o acreditei, n�o sabia o que dizer, nem o que fazer, acho que amarelei, vermelhei pretiei. Ele desajeitado e encabulado, me deu o meu 1ª beijo de amor, eu j� havia beijado o Kau�, mas entre n�s nunca houve amor, respeito, amizade e sinceridade sim, mas amor nunca. Ficamos nos beijando e depois nos olhando, sab�amos que hav�amos come�ado algo, mas n�o sab�amos bem o que, e nem no que isso implicaria.